Por Guilherme Franco

“Nada de novo capaz de despertar minha alegria. ”

O novo filme de André Novais vem, para após Hoje eu Quero Voltar Sozinho e Que Horas Ela Volta?, encerrar (ou iniciar) o trio de obras que discutem popularmente alguns problemas esquecidos, para os quais não é dado o merecido valor que deveriam na sociedade brasileira.

“…levando a geladeira lá e me apaixono”. Cotidianamente observador, Ela Volta na Quinta transpassa toda a calmaria e comodismo que muitas relações familiares acabam encontrando após quase uma meia-vida, o desgaste dos contatos emocionais mixados ao silêncio que se faz progressivamente mais presente. É com essa quietude que muito do filme vai se construindo, o diretor utiliza uma técnica de um diálogo observador, colocando um personagem em destaque e privilegiando suas reações frente a fala de outros e seus atos. Lembra-se de vários aspectos de O Som ao Redor, colocando esse mistério que sabemos que é apenas o expirar da sociedade, mas relatando alguns pontos diferentes, como a agonia da idade mais velha que vai se mostrando com a exposição dos personagens. Os protagonistas do filme são os pais do diretor, e a direção de elenco foi um processo artesanal e reconstrutor por conta destes não serem atores, que ganharam vários prêmios, entre eles Melhor Ator e Atriz Coadjuvante no Festival de Brasília, mesmo faltando transmitir os sentimentos com maior realidade em determinadas cenas.

Quando se assiste um filme brasileiro, em um cenário que conhecemos e estamos acostumados, é algo muitas vezes reconfortante. Reconhecer a voz brasileira e a cultura, que muitas vezes é renegada por nós mesmos, traz uma sensação de calmaria e reconhecimento. Ela Volta na Quinta apresenta detalhes que frequentemente são ignorados cotidianamente, como plaquinhas de anúncios e propagandas eleitorais, que acabam compondo uma direção de arte da obra. Complementando esses detalhes captados pelo diretor de uma forma até em parte documental, temos a casa do brasileiro comum, nesse caso do morador de Contagem, em Minas Gerais. A trilha sonora segue a escolha da direção em focar apenas um personagem, e se mostra como algo silencioso, sem tanto destaque, apenas aparecendo algumas vezes para encorpar o discurso do roteiro ou fazer mais uma experimentação, dessa vez algo radiofônico. Colocando a tela toda preta apenas com o áudio e deixando um espaço para o espectador se portar como um ser imaginativo e captar auditivamente as sensações oferecidas.

Começando muitas vezes pelo documentário, onde há um nível de risco elevado, temos o cinema experimental, uma classificação que poderia e deveria ser mais explorada pelo cinema atual. Filmes como Que Viva Eisenstein, que discutem em si mesmos alguns aspectos na produção cinematográfica, nesse caso a montagem, vêm para debater e propor a saída da monotonia comumente encontrada em termos de inovação na linguagem audiovisual. Ela Volta na Quinta também nos coloca diante de experimentos cinematográficos, os quais poderiam ter sido explorados a fundo neste longa. A música dos créditos sugere uma magia e ironia que poderiam ter aparecido de forma mais contundente no desenrolar da história contada, ou nos trailers que mostram o filme como um “Woody Allen brasileiro” só que mais poético e conceitual.

Ela Volta na Quinta chega para discutir os comodismos e hipocrisias do dia-a-dia, injetando poesia e se distanciando emotivamente de nossas opiniões, assim como colocando frente a frente velhos hábitos e comportamentos que se congelaram e colocam uma armadura prensada em muitos sistemas nervosos por aí. Será que ainda não nos cansamos de sentar em uma poltrona num dia de domingo procurando novas drogas de aluguel em um vídeo coagido?

Ela Volta na QuintaEla Volta na Quinta

Ano: 2015

Direção: André Novais Oliveira

Duração: 107 min.

Gênero: Drama

Nacionalidade: Brasil

 

 

Veja o trailer:

Galeria de Fotos: