Depois do filme / evento que foi Vingadores: Ultimato (2019), a Marvel entendeu que dificilmente um acontecimento como esse poderá se repetir. Tanto que ela passou a incluir as séries como parte importante do desenvolvimento de seus personagens e não só como histórias independentes como eram seus produtos para a televisão anteriormente. E claro, conquistar o público fiel para o serviço de streaming da detentora dos direitos dos heróis, a Disney.

Falando nos produtos do Mickey, para manter o público interessado, o estúdio resolve também avançar um pouco, só um pouquinho, no que seria um “clássico filme Disney” em Os Eternos (2021) e desafiar o tradicional “padrão Marvel de qualidade”

Diferente de Os Vingadores em que o desafio era um grupo de desajustados funcionar como uma equipe, Os Eternos é uma equipe que aos poucos vai se desajustando. O grupo foi enviado à terra há 7 mil anos para proteger os humanos de criaturas chamadas de Deviantes. Depois de ter eliminado os seres, eles esperam anos para serem chamados de volta para seu planeta natal pelo ser superior que os enviou, mas isso nunca acontece. Até que os Deviantes voltam a aparecer e eles precisam se reunir novamente para sobreviver.

O filme indica possíveis conflitos futuros do universo cinematográfico dos heróis. Os rumos parecem seguir em direção ao espaço com seres estelares que fogem da compreensão humana. Ao que tudo indica, experimentos científicos durante o período da Guerra Fria serão apenas coadjuvantes e elementos que unem a história a seu passado terreno. E, obviamente, dar à humanidade, e a nós espectadores, algum motivo para torcer para os heróis.

Para além da trama, os chamarizes de Os Eternos têm sido motivos sociais / políticos.  No elenco, para interpretar os personagens foram escalados representantes de “minorias” (aspas por se referir ao que estamos acostumados a ver em grandes produções hollywoodianas). Negro, asiático, latinos e LGBTQIA+ fazem parte da equipe de heróis que tenta salvar o mundo dessa vez. Rompendo os limites do que sempre foi padrão na Disney, temos pela primeira vez cena de sexo e beijo gay em um filme da Marvel.

Bom, já é possível ouvir ao longe um som de uma trombeta dos mais conservadores reclamando que gostava mais do universo dos Vingadores quando a Viúva Negra era super sexualizada em Homem de Ferro 2 (2010) e não havia tantas críticas. A verdade é que muita gente não entende, ou se recusa a entender, é que a maioria desses filmes trazem reflexões sobre nossa própria sociedade. Acho incrível e imperdoável ver por aí fãs de Star Wars que defende fascista ou de X-Men tendo atitudes homofóbicas ou racistas, sendo que os filmes são claros manifestos contra esse tipo de coisa.

Dirigido pela vencedora do Oscar por Nomandland (2020), Chloé Zhao, Os Eternos, conforme dito anteriormente, consegue se desvencilhar do tradicional padrão Marvel. Para falar a verdade, se não fosse as cenas de ação e as piadinhas, que não poderiam faltar num filme do estúdio, eu esqueceria que se tratava do universo dos Vingadores. A trama foge do tradicional esquema de mocinho e vilão e traz reflexões sobre valores humanos e os rumos da sociedade.

O que eu fiquei pensando durante todo o filme foi: será que meu afilhado de 13 anos vai entender isso tudo ou será que eu estou o subestimando? Os conflitos e os personagens são mais complexos do que uma simples divisão entre bem e mal. Como dito, os melhores pontos da produção estão na tentativa de sair das formas pré-estabelecidas tanto do ponto de vista de roteiro e personagens quanto em pontos políticos e sociais. Que vai ter gente reclamando isso vai, mas talvez seja um filme grande demais para mentes pequenas.

Eternos

Ano: 2021
Direção: Chloé Zhao
Roteiro: Chloé Zhao, Patrick Burleigh, Ryan Firpo, Kaz Firpo,
Elenco principal: Gemma Chan, Richard Madden, Angelina Jolie, Salma Hayek, Kumail Nanjiani, Lia McHugh, Brian Tyree Henry, Lauren Ridloff, Barry Keoghan, Ma Dong-seok
Gênero: ​Ação, Aventura, Drama
Nacionalidade: Reino Unido, Estados Unidos

Avaliação Geral: 4