Por Wallacy Silva e Joyce Pais
Começa com uma câmera contemplativa. Depois de interagir com sua modelo, o fotógrafo Cauby (Gustavo Machado) sempre sai de quadro, para que o espectador possa enxergar com os mesmos olhos da câmera fotográfica. Não é preciso muito tempo para perceber que estamos diante de um filme diferenciado. A partir da perspectiva de Cauby, adentramos ao universo de Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios.
O fotógrafo está de passagem pelo interior da Amazônia e acaba se envolvendo intensamente com Lavínia (Camila Pitanga), uma mulher misteriosa com distúrbios de personalidade. Ela é casada com o pastor Ernani (Zecarlos Machado), que prega na região um discurso carregado de política, que o coloca, inevitavelmente, em confronto com os interesses exploratórios de grandes corporações. Apesar de Lavínia se entregar inteiramente a Cauby, ela não é capaz de abandonar o marido e fugir pra viver essa paixão.
Obviamente quando se adapta uma obra literária para o cinema, escolhas devem ser feitas. O que se vê na tela nada mais é do que um recorte da história contada, no entanto, a supressão de alguns personagens, locais e situações pode se tornar um revés para o resultado cinematográfico. Comparações entre os dois universos, o das letras e o das imagens em movimento, são inevitáveis. E aqui, cabe dizer que a trama central, o romance de Lavínia e Cauby, foi afetada de forma negativa por essa adaptação de linguagens. No longa, o fotógrafo mais parece um aventureiro, diferente daquele homem ansioso e cego pelo que sente e pela mulher que mudou o rumo de sua vida. No livro, o fato dele ser o narrador ajudou na construção dessas nuances, que ficaram devendo no longa.
Enquanto a poesia visual fica por conta de Cauby, a poesia de fato aparece nas palavras do jornalista Vitor Laurence (Gero Camilo) que, diga-se se passagem, é responsável pelos melhores e mais engraçados passagens do longa. Com suas frases de efeito como “santa é a carne que peca”, se mostra um especialista em ironizar o desespero alheio.
A trilha sonora carregada de elementos regionais com seus batuques e ritmos pulsantes deflagram um Brasil pouco conhecido pela maioria de nós. As pequenas cidades de garimpo, onde milhares de cidadãos vivem e trabalham em condições precárias, e a tensão entre garimpeiros e grandes mineradoras foram captadas pela ótimo trabalho de direção de fotografia; o calor do Pará evidenciado por cores quentes, sentimentos a flor da pele, sejam eles de vingança, violência, amor, fé.
Nada mais justo que o prêmio de Melhor Atriz no Festival do Rio 2011 dado a Camila Pitanga para consagrar sua visceral atuação, no que acredito ter sido o papel de maior entrega em toda sua carreira. Para dar vida as diversas ‘Lavínias’ Camila teve que se despir, literalmente. Se despir para encarar de peito aberto uma personagem desafiadora, e o fez de maneira distinta.
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios pecou em ambicionar o brilhantismo literário das palavras de Marçal Aquino, e se até então sua bem sucedida parceria com Beto Brant/Renato Ciasca nos havia brindado com filmes como O Invasor, por exemplo, o novo lançamento poderá abrigar opiniões diversas entre seus fãs e espectadores.
Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios.
Ano: 2011
Diretor: Beto Brant e Renato Ciasca
Roteiro: Marçal Aquino, Beto Brant e Renato Ciasca, baseado no livro homônimo de Marçal Aquino.
Elenco Principal: Camila Pitanga, Gustavo Machado, Zecarlos Machado, Gero Camilo.
Gênero: Drama.
Nacionalidade: Brasil
Assista nossa entrevista com Marçal de Aquino:
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Veja o trailer:
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Galeria de Fotos: