Por Ana Carolina Diederichsen
Êxodo: Deuses e Reis narra a vida do personagem bíblico Moisés, o judeu criado como filho do Faraó no Egito antigo. Essa história foi contada tantas vezes e de tantas maneiras, que já se tornou conhecida do grande público. A mais marcante versão cinematográfica, tanto pelos incríveis efeitos visuais, inéditos para a época, quanto pela comoção épica que gerou, foi Os Dez Mandamentos (1956), de Cecil B. DeMille.
Ridley Scott (Gladiador; Prometheus) arrisca-se ao contar mais uma vez essa aventura, tentando afastá-la um pouco do viés religioso que a circunda. A religião está sempre presente, como não poderia deixar de ser em uma história bíblica, mas não é a sustentação da narrativa.
Os efeitos visuais, principalmente os que envolvem as famosas pragas do Egito, não decepcionam. As cenas da fuga dos escravos são impactantes e fazem jus a historia e aos filmes que o antecedem. A direção de arte e cenários imponentes ajudam a compor o ar grandioso que o longa carrega. Mas apesar de tanta composição, o filme é ineficaz ao se tornar o épico que promete.
A culpa disso é, em grande parte, da construção dos personagens. A equipe de 4 roteiristas, encabeçada por Steven Zaillian, vencedor do Oscar por A Lista de Schindler, constrói um Ramsés (Joel Edgerton) fraco, incapaz de sustentar a fundamental relação antagônica com seu irmão de criação, Moisés (Christian Bale; Trapaça). Com isso, o próprio protagonista acaba por se enfraquecer. Além disso, a atuação hesitante de Edgerton não favorece a situação.
Uma forma de exemplificar o roteiro pobre é uma cena em que Seti (Jonh Turturro), o faraó patriarca, revela a todos seu favoritismo por Moisés, criado como seu próprio filho. Oras, se é preciso colocar na boca do personagem uma fala que explicita algo que deveria ser sutilmente absorvido pelo espectador, então o filme nitidamente tem problemas.
Deus, que biblicamente aparece a Moisés e o convence a libertar seu povo, é representado aqui por uma criança intransigente e maquiavélica. A contraposição entre o personagem de Bale e a Criança é mais forte que a dos irmãos, apesar de menos explorada. O filme ganha méritos ao colocar essa relação quase como uma alucinação do protagonista, abrindo uma interessante gama de interpretações.
O longa ganha o status de épico que propagou, mas a falta de paixão (não confunda com romance) na composição narrativa, esvazia-o dramaticamente. A história parece fragilmente arrematada pelo deslumbre visual. Não se engane pela maquiagem toda, Êxodo é um filme competente, mas fica extremante aquém do que Ridley Scott pode oferecer.
Ano: 2014
Diretor: Ridley Scott.
Roteiro: Adam Cooper, Bill Collage, Jeffrey Caine, Steven Zaillan.
Elenco Principal: Christian Bale, Joel Edgerton, Jonh Turturro, Aaron Paul.
Gênero: Aventura, épico.
Nacionalidade: EUA
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