Por Guilherme Franco
Um apartamento, algumas poucas pessoas, sentimentos e conflitos.
Em uma França underground, alguns moradores de um prédio se reúnem em uma “reunião de condomínio” para decidir sobre mudanças como a troca do elevador. Apenas um morador (Gustave Kervern) do primeiro andar decide não contribuir, e ao longo do filme ele vai se redescobrindo em meio a desventuras nos espaços entre os dias. No desenrolar da história aparecem Charlie (Jules Benchetrit) e Jeanne (Isabelle Hupert), um jovem e uma mulher adulta interagindo quase que sarcasticamente e também uma senhora que um dia recebe um astronauta (Michael Pitt) em seu apartamento.
Fique Comigo é um filme extremamente agradável de assistir, temos a todo momento as personagens buscando, meio que por osmose e inconscientemente, sua razão de viver. O roteiro coloca várias ironias em que você se perde e de repente está preso a teia da narrativa. Uma França suburbana é mostrada por meio de um protagonismo compartilhado, assim como Ela Volta na Quinta, é um filme cotidianamente observador e algumas vezes silencioso. Temos, ainda, outro personagem em formação não mostrado que ronda o filme, sendo apenas sentido por espectadores sensíveis por meio de alguns detalhes como o som e imagens vazias.
Jovens franceses se misturam numa obra que tem o tom hipster dramático, mas aqui bem menos doloroso de sentir, de Xavier Dolan, e também um toque mínimo de Edifício Master, de Eduardo Coutinho, como se os personagens estivessem atuando sua vida para as câmeras e esquecendo delas ao mesmo tempo. A grande metáfora com a inserção de um personagem astronauta e americano interagindo com uma personagem não francesa suscita inúmeras possibilidades de interpretação. O cotidiano é montado de forma a mostrar que somos verdadeiros navegadores em desventuras por nosso destino em busca de um verdadeiro ideal, uma pequena amostra da origem sinestésica de nossos comportamentos.
A fotografia do filme conta com algo no ponto, nem a mais nem a menos, a luz é utilizada para mostrar uma realidade como ela mesmo seria, às vezes o cenário lembra os filmes de Xavier Dolan, mas sempre em um tom mais suburbano e irônico. O diretor trabalhou com uma direção de arte e figurino sucintos, também sem dar muita exaltação a estes. Seria válido investir um pouco mais em alguns personagens, como que nos filmes do Wes Anderson, para investir num tom mais excêntricos e peculiares (o que o filme já é em si), no entanto, tudo acaba se tornando bem mais poético e reflexivo. Alguns detalhes de atuação, como o vômito de um personagem e efeitos especiais poderiam ter sido melhor finalizados e escolhidos, mas não é algo que acabe afetando a obra num contexto geral.
Fique Comigo, Asfalto ou Histórias de Macadam traz dramas muito gostosos de assistir, diferentes realidades que se interconectam na esperança de compartilhar uma dor interior e, assim, se entregar na busca por sentimentos reais.
Ano: 2015
Diretor: Samuel Benchetrit
Roteiro: Samuel Benchetrit
Elenco Principal: Isabelle Huppert, Gustave Kervern, Valeria Bruni Tedeschi
Gênero: Drama
Nacionalidade: França
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