Por Luciana Ramos

Quando apareceu nos cinemas em 1954, Godzilla (Gojira) encantou uma legião de fãs não só pelo caráter apelativo da sua qualidade de monstro, mas pela história conter uma crítica social à situação do Japão após as bombas de Hiroshima e Nagasaki, lançadas em 1945. A sua lenda alude ao conceito da desmedida do homem e seu inevitável sofrimento posterior. Os testes com bombas de Hidrogênio no Oceano Pacífico levaram a uma mutação de um ser marítimo, transformando-o em um gigante radioativo que caça humanos e promove o terror por onde passa.

Aos poucos, nos mais de vinte filmes feitos sobre o assunto, o conteúdo foi sendo substituído pelo puro espetáculo visual e apelativo. No entanto, o mais novo filme sobre o monstro japonês volta-se ao passado para construir uma trama com mais densidade.

Há uma clara preocupação em ser tanto fiel à lenda original como em incrementá-la. Para isso, a trama é pulverizada e diversos episódios ao redor do mundo são contados no espaço de tempo de quinze anos, até todos se convergirem na catástrofe causada no Havaí e em São Francisco por monstros radioativos.

O longa começa em 1999, quando um fóssil gigante estranho é descoberto nas Filipinas. Denominado de MUTO (organismo terrestre maciço não-identificado), é estudado sem sucesso pelo Dr. Ichiro Serizawa (Ken Watanabe), cujo nome é uma clara referência ao personagem do primeiro Godzilla. Em Jajira, no Japão, Joe Brody (Bryan Cranston) vê sua vida destruída após um “terremoto” destruir a usina nuclear em que trabalhava.

Quinze anos depois, eventos estranhos, como quedas de aviões, voltam a acontecer e Brody está determinado a provar que não se tratam de casualidades. Seu maior problema, no entanto, é convencer o seu filho, o tenente Ford Brody (Aaron Taylor-Johnson), do mesmo. Porém, logo seres radioativos “acordam” e põem o mundo em perigo. Então, o Dr. Serizawa e sua assistente Vivienne Graham (Sally Hawkins), em conjunto com as Forças Armadas Americanas, tem que criar um plano para matar os dois MUTOs (um macho e uma fêmea) e o Godzilla, forças opostas de destruição.

A trama é densa e tão embebida de fatalismo quanto a do filme de 1954, no sentido de que a catástrofe é vista como o fruto que o homem está pagando pela sua arrogância. A dinâmica entre as ações e personagens é interessante, pois nos conduz a ansiar pelo destino de cada um deles. Já o Godzilla, que demora para ser mostrado, é absolutamente genial e seus poderes radioativos são muito bem usados, de forma que não causa decepção nos fãs dos seus filmes.

Porém, nem tudo funciona no roteiro. A ideia de construção gradual de tensão é boa, mas se alonga além do necessário. Na verdade, há muita pouca ação até o meio do filme e esta é dividida em vários personagens, o que faz o longa perder um pouco do seu apelo. Alguns deles, como por exemplo Joe Brody (Bryan Cranston) e Dr. Serizawa (Ken Watanabe) são pouco explorados como coadjuvantes, mesmo que desempenhem ações importantes na trama. O longa consegue se redimir quando é finalmente apresentado ao público o conflito principal e Aaron Taylor-Johnson assume de fato o seu papel de protagonista. A  partir desse momento, torna-se uma experiência bem interessante.

A inserção de novos monstros-vilões e o uso do já conhecido Godzilla em uma nova faceta foram escolhas inteligentes pelo caráter apelativo e também por abrir portas para futuras continuações, como de praxe hoje em Hollywood.

A qualidade técnica é impressionante e todos os elementos são bem inseridos, respeitando o desenvolvimento da história. Os enquadramentos são certamente o ponto alto do filme. A elaborada composição da imagem, que explora bem todas as potencialidades do 3D,  auxiliados  pela iluminação e constantes movimentos de câmera, diferenciam o filme pelo primor. O  design de produção e da direção de arte são igualmente bons pelo nível de detalhes com que conceberam ambientes abandonados ou destruídos, assim como a reprodução de zonas arqueológicas.

Em suma, o filme é um deleite para os olhos, assim como para os ouvidos. O design de som é da mesma forma eficiente e impactante, assim como a trilha sonora, como já esperado do prolífico e eficiente Alexander Desplat. Estes dois últimos são inseridos para auxiliar a pontuar os momentos de tensão.

Há ainda o elenco estrelado como destaque, com atuações dos consagrados Ken Watanabe, Bryan Cranston, ídolo da TV pela sua espetacular intepretação na série Breaking Bad, e a recente indicada ao Oscar, Sally Hawkins. A eles, misturam-se as novas apostas de Hollywood, Elizabeth Olsen e Aaron Taylor-Johnson, mais conhecido por O Garoto de Liverpool e Kickass. Todos estes, em especial o último, concedem boas e convincentes atuações, o que resulta em um equilíbrio de forças, que pode ser observado por todo o filme.

A nova versão de Godzilla, sob a direção do excelente Gareth Edwards, honra o passado ao mesmo tempo em que consegue dar um novo frescor ao monstro tão querido do cinema. Apesar de se perder em alguns momentos, deixando a sensação que algumas mudanças de roteiro o teriam aperfeiçoado, é ainda uma excelente diversão. O seu impacto visual e as características de Godzilla, menos perverso que em outros filmes, provoca a curiosidade e satisfaz a expectativa de um grande retorno.

Cinemascope-Godzilla (8) Godzilla

Ano: 2014

Diretor: Gareth Edwards

Roteiro:Max Borenstein, Dave Callaham

Elenco Principal: Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe, Bryan Cranston, Elizabeth Olsen, Sally Hawkins, Juliette Binoche.

Gênero: Aventura, ficção científica, ação.

Nacionalidade: EUA

 

 

 

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