Eu cheguei bem recentemente ao universo do terror. Depois de um certo “trauma de infância” com Brinquedo Assassino, o universo dos monstros nunca me pareceu muito convidativo, com raras exceções. Na verdade, eu morria de medo de uma cena do Brinquedo Assassino 2 (1990), na qual o boneco aparece todo derretido e persegue o garoto. O que me deixou desmotivado a assistir outros filmes do gênero por muitos anos.
Como todo bom iniciante em qualquer arte, recorri primeiramente aos clássicos para me inteirar. Assisti Sexta Feira 13 (1980), A Hora do Pesadelo (1984), Poltergeist: O Fenômeno (1982), Brinquedo Assassino (superando meu trauma infantil assisti os três primeiros quase que de uma vez) e Halloween (1978). Esse último me chamou bastante atenção por sua inclinação para o suspense, guardando os momentos de matança e terror apenas para o final. A cena clássica é a inicial, em que vemos o mundo a partir dos olhos do assassino por detrás de uma máscara. Interessante de se ver ainda nos dias de hoje.
O novo filme, também chamado de Halloween (2018) é uma espécie de reboot da série. Continuando diretamente dos acontecimentos do clássico de 1978. Todas as demais continuações foram desconsideradas e a história se passa 40 anos após o primeiro filme. Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) ainda vive atormentada pela sombra de Michael Myers (Nick Castle), que segue preso até então. Por isso, ela transformou sua casa numa fortaleza e se preparou para um possível novo encontro com o assassino. Essa fixação fez com que seus familiares se afastassem dela e a vissem como paranoica. Até que Myers foge, mais uma vez, em uma noite de Halloween.
Apesar de não trazer nada de muita novidade, Halloween reúne todos os elementos que constituem os filmes mais marcantes do gênero, como a incredulidade de boa parte das pessoas com o assassino a solta, uma polícia que está sempre atrasada e escorregões ao fugir do “monstro”. Isso somada a uma dificuldade de localizar o assassino por ser noite de Halloween e todos estarem mascarados. É interessante, também, que o filme nos poupa de muitos jumpscare (aquele momento em que o monstro surge repentinamente de algum canto e a gente pula da cadeira de cinema) utilizando aparições mais, digamos, “leves” do monstro. É investido mais em tensão do que susto propriamente. Ficamos tensos por ver ele chegando próximo de sua vítima, que está distraída ao telefone. E, assim como toda continuação de terror que se preze, esse novo capítulo é mais violento do que seu antecessor. Mais mortes e de forma mais dramática.
A câmera subjetiva que citei anteriormente, que observava por detrás da máscara no clássico, foi substituída por uma que persegue o serial durante seus percursos. Ao invés de Myers observando suas vitimas, somos nós, os espectadores, que perseguimos o assassino e observamos seus atos. Toda a sonoplastia e trilha sonora dessa nova produção vem diretamente do primeiro, o que causa um certo ar de nostalgia, ao mesmo tempo, demonstra um respeito com os fãs do original. Além de ter várias referências a outros filmes do gênero, como O Massacre da Serra Elétrica (1974), e a clichês do mesmo que não chega a ser um demérito do longa.
Acho interessante que, em diversos momentos, o longa ri de si próprio e mostra que entende que é um filme de gênero e o espectador já sabe boa parte do que vai acontecer e investe em fazer esses acontecimentos de forma diferente, talvez mais criativa, eu diria. Como quando finalmente Myers encontra Strode, eu sempre achava que aconteceria uma coisa mas, não. Inclusive, faz referência a própria franquia e utiliza fatos que ocorreram nos episódios desconsiderados como forma de lenda na própria cidade. Como a suposição de que Myers era irmão de Strode, aqui é visto apenas como boato dito por adolescentes que vão encarar Myers mais tarde.
Além do final, que obviamente não vou revelar, não é conclusivo e, mais uma vez, como qualquer bom filme de terror, deixa margem para possíveis continuações no universo de Michael Myers. Estou curioso.