Por Joyce Pais
Um dos favoritos à estatueta de melhor filme do Oscar 2012, Histórias Cruzadas é uma adaptação do livro The Help (Kathryn Stockett) e trata de um período da história dos Estados Unidos que apesar de pertencer ao passado, ainda vemos seus desdobramentos nos dias atuais (e isso não se restringe à sociedade norte-americana). Quando se fala de racismo não precisamos ir muito longe, temos exemplos claros na nossa própria história.
Tratar de algum tema polêmico, seja ele qual for, demanda um processo de pesquisa e imersão no contexto representado – vestimentas, costumes, cultura – nisso o filme cumpre seu papel, a pequena cidade de Jackson, no Mississipi, seus carros, os casebres claustrofóbicos das domésticas, os casarões suntuosos e arejados da elite branca, tudo no cenário foi recriado com a riqueza de detalhes que uma produção bem executada proporciona.
Anos 60. Auge das lutas pelos direitos civis. Tensão racial nos estados sulistas americanos. Numa sociedade em que as mulheres brancas tinham uma vida demarcada: arrumar um marido rico, casar, ter filhos e subjugar domésticas negras, alguém desafia a regra – Eugenia Phelar (Emma Stone), a “Skeeter”. De volta à cidade depois de cursar Jornalismo, ela é o avesso dessa lógica opressora e sexista, sua visão humanista acerca da situação das empregadas negras se deve em grande parte por ter sido criada por uma delas, Constantine.
Depois de conseguir um emprego no The Jackson Journal para escrever na coluna de assuntos domésticos (mesmo não tendo afinidade com o assunto), ela recorre a ajuda de Aibileen (Viola Davis), empregada de sua amiga Elizabeth Leefolt (Ahna O’Reilly), para escrever os artigos. Sempre fazendo o meio campo entre suas amigas brancas e as domésticas, Skeeter, ao entrar em contato com um universo bem diferente do seu, convence Aibileen a compartilhar suas experiências nas casas em que trabalhou para escrever um livro baseado em sua ótica e na das companheiras de profissão, dando assim, os primeiros passos na realização do sonho de ser romancista.
Algumas contradições são bem colocadas quando Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard) conta animada para o grupo de mulheres que faz ações beneficentes, que elas mataram a fome de crianças miseráveis na África, ainda que dentro de suas próprias casas, essas mulheres que a aplaudiram tratem como “lixo” as empregadas que cuidam de seus filhos.
Histórias Cruzadas peca por ser previsível, simplista e superficial. Numa sociedade em que os negros não podiam receber brancos em suas casas, usar o mesmo banheiro, frequentar as mesmas escolas e ônibus, em que eram mortos no meio da avenida pela KKK ou presos sem chance de defesa, não tratar da questão com o respeito necessário chega a ser uma ofensa.
Tate Taylor tinha uma ótima história nas mãos e pecou na maneira de contá-la, no seu recorte. O misto de drama com comédia diluiu a real carga que o tema pedia e enfraqueceu a transmissão da mensagem. Baseado em experiências pessoais da autora, que por sinal é amiga de infância do diretor que levou às telas sua história, Histórias Cruzadas deixa a desejar, e muito, na superficialidade com a qual encarou um assunto que até hoje é uma ferida aberta na história.
Sem dúvida o elenco é o ponto forte do longa e, por isso, são merecidas as indicações de melhor atriz para Viola Davis e melhor atriz coadjuvante para Octavia Spencer e Jessica Chastain, que dá vida a Célia Foote, uma “branca de segunda categoria”, excluída pelas demais por ter se casado grávida. Viola nos presenteia com uma atuação brilhante; o pesar ao dividir sua dor, desabafar e relembrar dos dias solitários após a morte do filho, a maneira como suporta toda a humilhação da sua patroa, sua força e vontade de ter uma vida melhor com certeza é o que ficará na memória do espectador.
Ano: 2011
Diretor: Tate Taylor.
Roteiro: Tate Taylor, baseado no romance de Kathryn Stockett.
Elenco Principal: Emma Stone, Bryce Dallas Howard, Viola Davis.
Gênero: Drama.
Nacionalidade: EUA.
Veja o trailer:
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