Após assistir a Ícaro, uma das coisas que mais me chamou a atenção foi durante os créditos. O filme tem dezenas de produtores, e procurando o perfil de cada um no IMDb, todos eles têm produções originais da Netflix no currículo. E por que essa quantidade absurda de produtores? Ícaro é uma obra com uma complexidade enorme de produção, parte mostrada na tela por meio dos obstáculos do diretor.
Com apenas um longa dirigido, meio que desconhecido (se chama “Jewtopia”, uma comédia romântica de 2012), Bryan Fogel busca construir no início do longa uma jornada do herói. Ele irá competir novamente em uma prova de ciclismo na França, só que dessa vez ele irá utilizar o doping (drogas que impulsionam e melhoram o rendimento de um atleta) e tentará não ser pego, e a proposta inicial do filme era mostrar essa jornada. No entanto, ao procurar um cientista que disponibilize um laboratório para ele ir testando, só consegue encontrar um russo de antidoping da Rússia. Com isso, ele acaba por descobrir uma das maiores farsas da história das Olimpíadas: que a Rússia tinha um programa estatal de doping para seus atletas e que mascarava isso desde dezenas de décadas atrás.
Um dos pontos mais interessantes do documentário é a mudança do dispositivo audiovisual. Começa com o diretor sendo o protagonista da narrativa, e acontece o que todos os realizadores desejam (pelo menos na maioria das vezes), que é encontrar uma história muito maior do que a proposta inicial. E ao invés de contar sua história, Bryan acaba contando um misto de sua vivência com o cientista russo Grigory Rodchenkov. Este decide abrir e contar a grandes veículos como o The New York Times sobre essa grande farsa de seu país de origem. Até o momento não cheguei a uma conclusão do por que Grigory decide revelar toda essa trama de ilegalidades de seu país natal. Bom, não foi simples, e isso é um dos porquês da produção ter tantos produtores e consultores legais.
Outro ponto que é um dos grandes atributos que conseguiu atrair uma enormidade ao filme é ter a composição de Adam Peters (Curtindo a Vida Adoidado, O Espetacular Homem-Aranha, Selvagens), o compositor que já trabalhou em outros documentários e grandes filmes como o Piratas do Caribe e Rango consegue criar um diálogo de tensão e poesia com a grande ação presente na obra. “Ícaro” é uma grande colagem de fatos e técnicas, além da câmera seguindo e acompanhando o dia a dia de Bryan temos entrevistas talking-heads, animação, gráficos, imagens de arquivo, tudo contribuindo para o filme e a dinâmica dessa grande jornada investigativa.
O filme teve uma carreira sólida que o levou ao Oscar, a começar de ser selecionado para o Festival de Sundance e lá ter vencido o Prêmio do Público, após isso a Netflix comprou seus direitos de exibição, ele foi indicado ao BAFTA (British Academy Film Awards), Directors Guild of America e agora aguarda a premiação do Oscar.