Por Mário Neto
Ao revitalizarem uma propensão de sua obra, os irmãos Coen nos surpreendem ao apresentar uma nova ótica da figura do anti-herói em seu mais novo filme. Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum narra de maneira melancólica e tragicômica (outra tendência na filmografia dos irmãos), os diversos infortúnios que acometem Llewyn Davis (Oscar Isaac), um cantor folk falido que vaga em busca de lugares para tocar e sofás para dormir, basicamente.
Llewyn Davis parece ter uma espécie de vocação para o revés, por onde passa causa problemas para si mesmo e para todos a sua volta, sua aparência triste e desolada, são reflexos de uma vida baseada em adversidades. Contudo, ao nos inclinarmos e analisarmos a motivação de seus atos desastrosos, podemos percebemos que, de fato, Davis incorpora suas pequenas catástrofes pessoais como um estilo de vida, ele o faz de maneira sóbria e consciente. E a justificativa para esta constatação é a de que Llewyn se vê como a própria materialização do gênero musical folk, um gênero que carrega em sua própria sonoridade um tom que, por vezes, beira o sorumbático, que glorifica a solidão, que gera compositores desconhecidos e que se popularizou em classes mais baixas, um gênero que simpatiza com a desolação.
No período de uma semana em que acompanhamos sua trajetória, notamos que todo momento em que o músico tem a oportunidade de gerar uma situação conflituosa, ele o faz sem ponderar sobre, seja no descuido de perder o gato de um amigo ou na opção de abrir mão dos royalties de um possível sucesso fonográfico em troca de pouco dinheiro rápido. De maneira brilhante, os irmãos Coen constroem essa narrativa de maneira cíclica, nos mostrando que Davis está preso em um casulo calamitoso que ele mesmo constrói, fazendo com que ele se torne uma espécie de entidade icônica representativa.
Não por acaso, o filme é levemente inspirado na vida de Dave Van Ronk, uma das personalidades mais importantes da cena folk de Nova York dos anos 1960, contemporâneo de figuras como Bob Dylan e Phil Ochs. Os Coen pretenderam alcançar uma retratação conceitual e estética desse período de grande importância pra música norte-americana, buscando na imagem de Van Ronk, representado por Llewyn Davis, a concepção sintética ideal.
Analisando os aspectos técnicos do longa-metragem, lembramos o motivo pelo qual Ethan e Joel Coen são considerados diretores extremamente importantes na história do cinema americano. A composição de cena, os enquadramentos e os movimentos de câmeras que os diretores concebem são como um novo personagem na trama, eles nos alimentam com informações de maneira extraordinária, elementos que nos fazem emocionar em momentos nos quais nem uma palavra se quer é dita, é o ato de se fazer cinema com vigor e talento nato ao mesmo tempo.
Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum é a prova de que os grandes cineastas tem a capacidade de se reinventarem sem abdicarem de um estilo próprio, é a fenômeno que explica a necessidade que esses realizadores possuem em se desafiarem em experiências completamente fora de sua zona de conforto. Um filme que já nos deixa ansiosos para saber como iremos ser surpreendidos no próximo trabalho desses artistas notáveis que são os irmãos Coen.
Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum (Inside Llewyn Davis)
Ano: 2013
Diretor: Ethan e Joel Coen
Roteiro: Ethan e Joel Coen
Elenco Principal: Oscar Isaac, Carey Mulligan, John Goodman, Justin Timberlake.
Gênero: Drama, Musical
Nacionalidade: Estados Unidos
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