Crítica do filme Jackie

Por Jenilson Rodrigues

É sempre bom sermos surpreendidos por produções despretensiosas criadas fora do eixo hollywoodiano. Principalmente quando se trata de uma trama descomplicada, sem grandes reviravoltas, mas conduzida de forma leve e singela, a ponto de não causar ansiedade por um final incrível ou impaciência diante de tanta simplicidade.

Em Jackie, filme holandês de 2012 que só agora chega ao Brasil, as irmãs gêmeas Sofie (Carice Van Houten) e Daan (Jelka Van Houten) – que foram adotadas e criadas na Holanda por um casal gay – resolvem ir atrás de sua mãe biológica, nos Estados Unidos. Até então uma história aparentemente normal, mas que ganha contornos interessantes a partir do desenrolar dos acontecimentos.

Sofie é linda, porém antenada demais, solteira e viciada em trabalho. Daan, apesar de um pouco diferente – e não menos bonita do que a irmã – por sua vez, tem um casamento morno, sente dificuldade em ser ela mesma em família, mas é mais gentil, humilde e atenciosa. O que parecia ser apenas um encontro para matar a curiosidade de ambas acaba se tornando uma jornada inesquecível, uma aventura inusitada repleta de emoção e de lições de autoconhecimento.

O que notamos neste filme sensível do diretor Antoinette Beumer é um trabalho de direção de arte perfeito, aliás, é até óbvio demais falar dos aspectos técnicos de Jackie separadamente. À medida que vemos a trama ficar mais envolvente, somos inundados por paisagens de encher os olhos. Ao encontrar Jackie (Holly Hunter) doente, Sofie e Daan precisam levá-la para uma casa de reabilitação e percorrem caminhos maravilhosos através de desertos e locais paradisíacos a bordo de uma bela motorhome, sim, exatamente um veículo muito parecido com aquele utilizado como laboratório de metanfetamina na série Breaking Bad.

Em alguns momentos sentimos falta de músicas que ambientem as cenas, entre diálogos e sequências meio lentas. Entretanto, a espera por tal combinação é compensada pelo deslumbramento causado pela natureza contemplada durante a emocionante viagem. É um road movie que também nos faz relembrar ótimas produções do gênero, como o clássico Thelma & Louise (1991).

Com boas atuações e um roteiro bem amarrado, Jackie acaba sendo uma agradável surpresa para quem sabe apreciar o que o cinema sabe fazer da melhor maneira: encantar-nos com uma obra linda e preencher 90 minutos de nossa existência de forma tão tocante e inspiradora.

Jackie