Por Felipe Rocha

O mais recente filme de Sergio Bianchi (de Cronicamente inviável e Quanto vale ou é por quilo) traz de volta às telas o estilo inflamado – para dizer o mínimo – do diretor. Apresentado ao público na última Mostra de Cinema de São Paulo no ano passado, o enredo se desenvolve acompanhando Leandro (Fernando Alves Pinto), jovem paulistano de classe média e estudante no mestrado, cuja pesquisa trata do período da Ditadura Militar no Brasil e dos grupos de oposição ao regime, armada ou não, que foram torturados e mortos. Aos 30 anos, anda vive com a mãe, Marília, que foi presa e torturada durante a ditadura e hoje pleiteia uma indenização enquanto preside uma ONG de auxílio à outras vítimas do regime. Em meio às pesquisas Leandro se depara com a obra de Jairo Mendes, um artista “desbundado”, cujo único filme intitulado O jogo das Decapitações fora proibido pelo regime militar.

O longa, de um tom cínico e caricato, aponta um dedo crítico em muitas feridas ainda abertas do recente passado nacional e coloca a violência no centro da discussão, ou melhor, como a presença de processos violentos ocorre de maneira frequente na história brasileira. Enquanto acompanhamos a trajetória de Leandro nos dias de hoje pela busca do passado (tanto o histórico como o seu próprio) somos bombardeados por uma série de pontos de vista totalmente distintos sobre o que foi a ditadura militar e seu legado para o país. Entre a geração de setenta e a atual, entre qual violência se dá maior ou menor enfoque, nos perguntamos o quanto aprendemos dessa lição.

Contando com um elenco cheio de atores consagrados no cenário nacional como Sérgio Mamberti (eterno Dr. Victor, do Castelo Rá-Tim-Bum), Maria Alice “Tapa na pantera” Vergueiro e Paulo César Pereio, Jogo das Decapitações não é ingênuo, mas falha naquilo que parece ser seu maior trunfo. Bianchi carrega demais no tom caricatural e demasiadamente teatral dos personagens, talvez uma aproximação com o “desbunde” executado pelas personagens no próprio filme (um exercício de metalinguagem), e acaba caindo em certo didatismo, que demonstra demais e discute de menos. Não tiro os méritos do filme, seria simplório demais tachá-lo de reacionário ou retrógrado, não se trata de nada disso, creio eu. Acho que Bianchi acertou melhor a mão com o incrível Quanto vale ou é por quilo?, mas Jogo das Decapitações tem o crédito de ser um filme que discute o país e seus problemas de forma pouco convencional e fugindo dos clichês de sempre, algo que é sempre bom de ver e discutir. Resumindo a história: é bom saber que Bianchi continua provocativo.

Cinemascope - Jogo das Decapitações

Jogo das Decapitações

Ano: 2014

Direção: Sérgio Biachi

Roteiro: Sabina Anzuategui, Eduardo Benaim, Sérgio Bianchi, Aimar Labaki, Francis Vogner.

Gênero: Drama

Elenco principal: Fernando Alves Pinto, Silvio Guindane, Clarisse Abujamra.

Nacionalidade: Brasil, Portugal

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