Por Guilherme Franco
Guardamos rancores e passados mal resolvidos presos dentro de nós na esperança de ter a oportunidade, mesmo sabendo ser quase utópica, de esvaziar a alma das intoxicações que nós, seres sentimentais, estamos sujeitos.
O novo filme do mestre espanhol Almodóvar traz para a telona esse sentimento de dores passadas. Conta a história de Julieta (Emma Suárez; Adriana Ugarte), que está prestes a se mudar para Portugal, mas quando encontra uma amiga descobre uma nova informação sobre sua filha, Antía, e decide ficar em Madrid. A protagonista se instala em uma casa e ao decorrer da narrativa, que mistura flashbacks, com outra atriz interpretando Julieta, ela vai escrevendo uma carta para Antía.
Entre os ditos “altos e baixos” dos trabalhos do diretor, quem for esperando algo com muita emoção ou suspense, talvez não encontre, mas com certeza verá uma obra que contém ensinamentos sobre cinema, sentimentos e o feminino. Misturando drama social familiar a busca de uma filha para a resolução de uma vida marcada por angústia, Almodóvar coloca em destaque uma mulher linda e abatida, claramente mostrando a depressão de forma lírica, poética e até singular, com o estilo Almodóvariano de se fazer cinema.
O longa é bem filmado, com planos e enquadramentos não tão no limiar e belos como em A Pele que Habito, mas pensado em cada detalhe do cenário, luz e mis-en-scene. Outro destaque são as simbologias, significados e reflexões, além das tradicionais e transgressoras cores da direção de arte dos filmes do diretor, o trabalho com o azul, preto e em especial o vermelho, preenchem a tela de possíveis análises e debates. As expressões da atriz Emma Suárez representam, na medida ideal, a dor da personagem e a tristeza com a qual ela enfrenta sua pesada cruz. A trilha sonora, como também o figurino, relembram a filmografia do diretor de forma suave e melodramática, pautada em cenas com vários cortes e expressões dos personagens.
Julieta pode não ser o melhor e mais representativo trabalho de Pedro Almodóvar, pode talvez ser um pouco monótono, mas representa com dignidade a dor que algumas pessoas enfrentam diante uma sociedade com sentimentos líquidos, como diz Zigmunt Bauman, e ações imediatistas.
Ano: 2016
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar, Alice Munro
Elenco Principal: Inma Cuesta, Adriana Ugarte, Emma Suárez
Gênero: Drama
Nacionalidade: Espanha
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