Por Sttela Vasco

Muito se especulou quando finalmente foi confirmada a adaptação de 50 Tons de Cinza (50 Shades of Grey) para o cinema. Entre idas e vindas de elenco e indecisões sobre quão fiel às suas cenas mais picantes ele seria, o longa dirigido por Sam Taylor-Johnson (O Garoto de Liverpool) finalmente saiu e se provou exatamente o que seus algozes já previam: uma obra rasa, feita puramente para agradar aos fãs do livro e que falha por completo ao tentar reproduzir em tela a sensualidade pela qual supostamente ganhou fama.

A jovem Anastasia Steele (Dakota Johnson), uma estudante de literatura de 21 anos, precisa entrevistar o excêntrico e sedutor bilionário Christian Grey (Jamie Dornan) para o jornal da faculdade. Após o encontro, ambos se envolvem em uma complexa relação de amor e sexo, onde Anastasia descobre os prazeres do sadomasoquismo e acaba por se tornar submissa ao sádico Grey.

Logo de início já se percebe que o roteiro de 50 Tons é falho e recheado de pontas soltas. Personagens aparecem e, mal são apresentados ao público, somem. Os secundários são de fato secundários e estão ali apenas para dar rosto a um nome já conhecido pelas fãs. Falta um eixo que conduza de maneira mais firme a história. As sequências acontecem de maneira apressada, sem dar tempo para o espectador se envolver pela narrativa ou criar empatia pelos personagens. O morder dos lábios, o lápis com o logo de Grey indo em direção à boca da Dakota não fica natural ou sexy, mas sim uma tentativa mal sucedida de envolver o espectador em uma sensualidade que não existe.

Antes o problema fosse apenas o roteiro. Os atores também não ajudam ao entregarem uma Anastasia sem muita graça e com momentos de sensualidade que chegam a ser caricatos e um Grey que, apesar de bonito, não convence como o bilionário poderoso. Falta presença de ambas as partes. Jamie Dornan ainda consegue se destacar um pouco mais – em especial nas sequências finais – mas parece incomodado ou fora do personagem durante boa parte da trama.

As semelhanças com Crepúsculo chegam a incomodar em determinados momentos. É certo que 50 Tons começou como uma fanfic – uma versão da história feita por fãs – inspirada na saga vampiresca, mas será que havia necessidade de deixar isso tão claro? É como se quisessem reaproveitar o público uma vez adolescente de um e agradá-lo com uma versão sexualizada e sem seres sobrenaturais do outro.

As polêmicas cenas de sexo, aliás, se revelam tão comuns quanto qualquer outra. Tentam agradar e chegam a ter uma boa estética, mas pecam por entregar menos do que prometem. Se o filme tem o sexo como um de seus motes – e usa-o como forma de diferenciá-lo de qualquer outro romance do gênero – que o tenha de forma verdadeira, apaixonada. Se temos um sádico, então, que seja bem explorado.

A cena que mais se aproxima disso (alerta de spoiler a seguir) talvez esteja ao final, quando Christian se permite um pouco mais e mostra seu lado obscuro. Este também é provavelmente o grande momento de Dornan no longa.

Há de se ressaltar, no entanto, a trilha sonora, que soube mesclar clássicos com hits atuais de maneira inteligente. As músicas conseguem tornar a trama mais envolvente do que a história em si e a remixagem de Crazy In Love, de Beyoncé, é provavelmente um dos feitos mais positivos da produção. A fotografia é bem trabalhada, se mantendo em tons frios e fazendo clara referência ao título da obra. Sam soube utilizar seus conhecimentos – ela é fotógrafa – a seu favor.

50 Tons poderia ter explorado melhor a grande carga dramática que seu protagonista tem. Teria enriquecido a trama, dado mais suporte ao roteiro e o tornado mais profundo. As melhores cenas são justamente as que o filme expõe um pouco mais disso. Taylor-Johnson e companhia preferiram agradar somente aos fãs e não ousaram, fazendo com que o filme seja mais lembrado pelo burburinho que causou do que por ele em si.


Cinemascpe - 50 tons de cinza (2)50 Tons de Cinza (50 Shades of Grey)

Ano: 2015

Direção: Sam Taylor-Johnson

Roteiro: Kelly Marcel

Elenco: Jamie Dornan, Dakota Johnson, Jennifer Ehle

Gênero: Drama, Romance, Erótico

Nacionalidade: EUA

 

 

 

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