Por Luciana Ramos

Segundo pesquisas, os seres humanos só utilizam apenas 10% da sua capacidade cerebral. O que aconteceria caso atingissem 100%? Mediante tal premissa (errônea, como admite), Luc Besson propõe a imersão do espectador na sua mais nova ficção científica.

O filme começa com Lucy (Scarlett Johansson) discutindo com o namorado na porta de um hotel em Taiwan. Ele quer que ela termine uma transação com Mr. Jang (Min-sik Choi), um homem perigoso, lhe entregando uma mala, mas encontra resistência a ideia. Prende então o objeto ao seu pulso e logo Lucy se vê presa numa espiral de contrabando de uma nova e potente droga, CPH4.

Com um pacote inserido a sua barriga, é obrigada a servir de mula internacional. Eventualmente a droga começa a vazar em seu corpo e a protagonista sofre um aumento gradativo da capacidade cerebral e decide vingar-se daqueles que a fizeram mal.

A trama avança gradativamente até o ponto em que Lucy alcança o ápice da evolução, que ironicamente parece ser cada vez menos humana. O diretor utiliza-se da montagem para dar vazão a sua teoria, intercalando as cenas que originam o conflito à de caças selvagens. Tal mecanismo repete-se durante todo o filme, que cita constantemente o processo evolutivo para justificar o andamento do roteiro.

Tal uso, no entanto, revela-se problemático. Ao invés de instigar, Besson parece pensar ter a obrigação de digerir toda a sua ideia para o público. Encaixa-se, neste contexto, a participação de Morgan Freeman como o Professor Norman, já que por cabe a ele esse papel até quase a metade do filme.

Porém, ainda que a combinação de cenas com ritmo frenético e imprevisível com outras puramente teóricas e explicativas enfraqueça o ritmo, este se recupera com o caminhar da narrativa. A medida em que Lucy vai conseguindo atingir uma maior capacidade cerebral, a trama ganha traços interessantes, instigando o telespectador a descobrir junto com a protagonista os seus limites.

No entanto, o entusiasmo por essa ficção científica pop desaparece quando a protagonista aproxima-se de atingir 100% pela insistência do diretor em dar contornos metafísicos e filosóficos a discussão, quase abandonados em certo momento da trama, o que resulta em um desfecho canhestro e repleto de sub-referências a obras mais densas e bem trabalhadas como Matrix e até 2001-Uma Odisseia no Espaço.

Referências, aliás, não faltam, principalmente aos seus trabalhos mais antigos. A Lucy de Besson muito aproxima-se de outras mulheres fortes que se propuseram a superar os próprios limites, como Nikita, Leeloo e Angel-A. Da mesma forma, muito do estilo de tais filmes pode ser facilmente identificável, agora misturados para dar o tom de Lucy.

Infelizmente, a construção visual não consegue suprimir a má abordagem do tema, cuja fraqueza vem do fato de querer contemplar tudo ao mesmo tempo, tornando-se assim bastante irregular e um tanto enfadonha em determinados pontos essenciais. Ademais, há um alongamento desnecessário do conflito (ele podia ser claramente resolvido na metade do longa) e a incorporação de efeitos visuais descartáveis, como por exemplo na passagem em que a protagonista é contaminada.

Assim, ainda que interessante em alguns momentos, Lucy fica no meio do caminho, sem conseguir propriamente revelar-se uma boa ficção científica, nem explorar dignamente o seu teor metafísico.

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Ano: 2014

Diretor: Luc Besson

Roteiro: Luc Besson

Elenco Principal: Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Min-sik Choi

Gênero: Ficção científica, ação, suspense

Nacionalidade: França, EUA

Confira o trailer:

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