Por Guilherme Franco

A velha máscara utópica de que “homem não chora” é o embate de Manchester À Beira-Mar. Produzido por Matt Damon (Gênio Indomável, A Identidade Bourne, Perdido em Marte), a nova promessa de Kenneth Lonergan, roteirista de Gangues de Nova York, é explorar as dores e lutas internas de um homem comum, não tão comum assim.

Lee Chandler (Casey Affleck), é um jovem zelador que vive sozinho em uma cidade grande, mas seus rumos mudam quando seu irmão morre. A narrativa, que tem como protagonista o luto, é construída em cima do presente e de múltiplos flashbacks intercalando a linha principal, sem deixar uma sensação de curiosidade extrema sobre a atual história, Lee vai sempre remoendo seu passado com lembranças inseridas delicadamente.

Com todas as passagens bem interligadas, o filme é um conto do cotidiano de um homem que enfrenta a triste dor da perda em meio a um acidente trágico. Como muitos, Lee toma o silêncio e distanciamento como seu principal apoio, escudo e rota para chegar ao esquecimento com relação ao que aconteceu. O sentimentalismo seco do protagonista também reflete em outros personagens de forma irreal, como por exemplo, seu sobrinho ter uma relação sexual com uma amiga no dia da morte de seu pai, nem se abalando com o ocorrido. O arquétipo de macho construído socialmente e ainda presente na sociedade atual é retratado no longa, com homens de atitudes agressivas, insensíveis, briguinhas em bares (para mostrar quem é o mais forte) e traição (tratada de forma natural por outros personagens). Tudo se mistura em enxergar esses machismos vivenciados de forma natural ou relativizar e entender tudo como parte do processo de luto e, assim, justificá-lo.

As imagens do filme constituem-se grande parte em árvores, mar e barcos, espelhando sempre o vácuo sentimental do personagem e as dores que todos sentem. Azul, cinza e branco predominam, e como o azul claro que prevalece no cartaz, a constância do filme está em cima de conflitos que já passaram mas continuam como fantasmas, doendo, mas sem tirar Lee de sua armadura sentimental. Randi (Michelle Williams), ex-mulher do protagonista, aparece de forma dura, mas logo perde seu manto de aparência, como todos do filme, que se enquadram rapidamente no engessado sentimento cinza e conformado da perda.

Variando de música clássica, ópera e até o jazz de Ella Fitzgerald, a trilha sonora aceita o contrato de dor conformada e complementa esse cansaço, do acomodado dessabor do passado. Manchester À Beira-Mar não cutuca a ferida do luto que a maioria das pessoas têm dentro de si, ele arranha discreta e friamente deixando tudo em dormência. Mesmo com alguns pesares como ser um longa em que praticamente não se tem a visão e participação de mulheres, é uma obra bem construída e que dialoga com a perda e a forma com que jamais o tempo volta para podermos arrumar erros antigos.

Manchester-à-Beira-marManchester À Beira-Mar (Manchester by the Sea)

Ano: 2017

Direção: Kenneth Lonergan

Roteiro: Kenneth Lonergan

Elenco Principal: Casey Affleck, Michelle Williams, Kyle Chandler

Gênero: drama

Nacionalidade: EUA

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