Mary & Max – Uma Amizade Diferente

Por Jenilson Rodrigues

Logo que nos deparamos com a mensagem “baseado em uma história real”, no início do filme Mary & Max, supomos se tratar de mais uma trama emocionante e tal expectativa é correspondida em mais uma bela animação do diretor Adam Elliot.Tony Collete empresta sua voz à Mary Daisy Dinkle, uma garotinha de 8 anos que vive de forma bem simples com os pais no pequeno vilarejo de Mount Waverley, na Austrália, em 1976. É uma personagem carismática que em alguns momentos nos lembra até o também humilde Charlie Bucket, de A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971). A principal semelhança é que o pai de Mary trabalhava na linha de produção de uma fábrica assim como o pai de Charlie no filme de Mel Stuart. Do outro lado do mundo, mais precisamente na tumultuada cidade de Nova York, Max Horovitz (Philip Seymour Hoffman), um obeso senhor de 44 anos, também leva uma vida pacata e solitária. Mary e Max têm em comum a dificuldade de se relacionar com o mundo e com as pessoas, além do apreço por chocolates e desenhos animados. Eles se conhecem por correspondência e a partir daí passam a compartilhar seus sonhos, seus medos e suas manias, dando início a uma linda amizade inimaginável hoje –  tempo marcado por relações sociais pela internet.

Adam Elliot acerta mais uma vez ao retratar de forma sincera a vida de protagonistas problemáticos. Foi assim em 2004, quando conquistou o Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação com o filme Harvie Krumpet. Utilizando-se mais uma vez da técnica conhecida como claymation, que se trata da animação realizada em stop-motion com massinhas, o diretor surpreende ao dar vida a personagens que nos comovem ao manifestarem seus sentimentos. A riqueza de detalhes nas expressões destes ao mesmo tempo em que causa admiração, conduz o espectador de tal forma que em alguns momentos é possível até se esquecer de que se trata de uma animação, tamanha a fidelidade da representação.

O tom escuro e carregado das cores utilizadas no filme é o ideal para se contar uma história sobre algo tão verdadeiro como a amizade entre pessoas diferentes e seus problemas pessoais. Apesar disso, a melancolia não se sobressai na história, ela permanece em perfeito equilíbrio com as boas doses de humor e sarcasmo estrategicamente distribuídas por todo longa, atenuando o clima pesado e aliviando um pouco a tensão.  Outro fator que contribui para amenizar a angústia é o conjunto de doces melodias da belíssima trilha sonora assinada pelo compositor Dale Cornelius.

Este filme integrou a programação do Festival de Animação do Cinusp.