O sucesso de Invocação do Mal (2013) iniciou uma série de filmes expandindo seu próprio universo. A boneca Annabelle foi acrescentada à cultura pop de forma marcante e até quem nunca viu nenhum dos filmes sabe do que se trata quando seu nome é citado. Diversas produções foram feitas nesse universo, inclusive A Maldição da Chorona (2019), que eu não fazia ideia que também integrava essas narrativas. Isso sem contar outras produções que aproveitaram bonecos malditos em seus enredos, títulos e pôsteres parecidos com os de Invocação do Mal.

Como quantidade é diferente de qualidade, boa parte desses filmes não são lá muito interessantes. Talvez o maior triunfo deles seja o sucesso comercial. O marketing em cima deles é que faz multidões sentirem vontade de ir vê-los no cinema (lembra uma época que a gente ia para uma sala de cinema ver filmes). Até pegadinha do Silvio Santos já foi usada para promover os títulos. Um dos mais sofríveis de se assistir foi A Freira (2018). Ao invés de um terror, ele se aproxima mais de um A Múmia (1999). Aquela versão que Brendan Fraser usava um gato para espantar vilão, sabe? Era essa sensação que tinha quando assistia A Freira. Inclusive, até o figurino de um dos personagens, o herói do filme, lembrava o de Brendan.

Nessa infinidade de lançamentos, os filmes realmente interessantes são justamente os originais Invocação do Mal (se é que pode se chamar assim). Tanto o primeiro quanto Invocação do Mal 2 (2016) tiveram direção de James Wan, o que garantiu um certo “padrão de qualidade”. Apesar que no segundo, tenho uma certa ressalva por ele “mostrar demais”. O que chama atenção no original é que Wan trabalha toda uma tensão, uma atmosfera em torno da casa mal-assombrada antes que possamos ver efetivamente qualquer coisa. Apesar disso, Invocação do Mal 2, ainda consegue ser mais interessante do que qualquer um dos outros derivados.

Depois de ser assombrado pela pandemia que prejudicou também muitos outros lançamentos, finalmente o mundo conheceu Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio (2021). Se nos anteriores, apesar de uma resistência inicial, o casal Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) tinham aprovação daqueles que os rodeavam, aqui a coisa se complica um pouco. Um rapaz comete um crime e se declara inocente dizendo que estava possuído quando cometeu o ato. Além de tentar livrar o rapaz de espíritos do mal, eles também precisam impedir que ele seja condenado por um tribunal.

Assim como em outras franquias de terror, aqui os desafios dos protagonistas são renovados. O mal surge de diferentes formas e eles precisam buscar conhecimentos para além de onde já tinham ido. Isso dá um certo frescor para o filme e não deixa com o ar de ser “mais um Invocação do Mal”. A história se desenvolve  por si própria e a seus personagens têm uma evolução que pode se expandir até para futuros lançamentos.

É interessante observar também o contraste entre a visão dos Warren com a das “pessoas normais”. Tanto do lado sobrenatural, como quando Lorraine precisa provar ter um dom, quanto da disponibilidade de ajudar uma pessoa. Esse diferencial, pessoas normais versus Warren, é um elemento interessante e que, como dito anteriormente, não havia nos dois filmes anteriores da franquia. Aqui houve uma opção acertada de priorizar o mundo sobrenatural e não focar a história na discussão social ou num drama de tribunal sobre a veracidade de um demônio agindo em um crime. A história mostrada para nós, espectadores, é que tudo aquilo aconteceu de verdade, mas eu gostaria de assistir a um filme que mostrasse uma outra visão. A das pessoas céticas às afirmações dos Warren. Algo como o que acontecia nos tribunais enquanto o casal procurava pistas demoníacas. Certamente seria um estudo social bem interessante da época.

Acredito que uma das principais preocupações dos que, assim como eu, gostam da franquia, era quanto à troca da direção. Saiu James Wan e entrou Michael Chaves, que foi responsável por A Maldição da Chorona que, conforme dito, também faz parte do universo de Invocação do Mal. Aqui ele não decepcionou. Logo no começo do filme já jogou bem na nossa cara uma referência a um dos clássicos do terror que é O Exorcista (1973) com o padre chegando numa casa para realizar o exorcismo de uma criança. Além disso, a própria cena do exorcismo é muito bem dirigida, já nos captura para a história e seus personagens.

O que eu achei estranho é que a Annabelle não apareceu aqui. Geralmente, até mesmo nos filmes que não são propriamente dela, algum personagem visita a casa dos Warren e vai conhecer o quarto onde ficam os artefatos que eles coletaram durante seus trabalhos. Aí, a gente vê ela atrás de uma caixa de vidro e um aviso de perigo. Nem que seja só para fazer uma graça, ela aparece lá. Dessa vez os dois citam que vão usar a boneca para convencer uma advogada a ajudar o rapaz, chegam a entrar no quarto que ela fica, mas a gente não tem em cena qualquer vislumbre da boneca. Para o filme talvez tenha sido melhor do que uma cena aleatória só para constar. Mas, achei estranha sua ausência. Talvez estivesse sendo preparada para algum outro derivado desnecessário. Vai saber.

Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio

 

Ano: 2021
Direção: Michael Chaves
Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick, James Wan
Elenco principal: Patrick Wilson, Vera Farmiga, Ruairi O’Connor, Sarah Catherine Hook, Julian Hilliard
Gênero: ​Terror, Mistério, Thriller
Nacionalidade: Estados Unidos, Reino Unido

Avaliação Geral: 4