Se você esteve em um casamento, bloquinho de carnaval ou morou no Brasil no pré-pandemia, com certeza escutou uma música de Sidney Magal. Sandra Rosa Madalena, Meu Sangue Ferve por Você, Tenho, Me Chama Que eu Vou, são alguns de seus sucessos. Esta última, inclusive, empresta o nome para o documentário que detalha a vida do artista.
Dirigido por Joana Mariani, Me chama que eu vou está na competição de longas do Festival de Gramado 2020 e, até então, é um dos filmes mais leves do evento. O longa conta os 50 anos de carreira de Sidney Magal e revive os momentos marcantes da vida do cantor sob a ótica dele mesmo e de seus familiares.
Logo no início percebemos que Magal, abreviatura de Magalhães, sempre teve o desejo de ser famoso, amado e conhecido. Com uma personalidade expansiva, ele foi, e de certa forma ainda é, a personificação do ritmo latino. O começo de sua carreira foi acompanhado de perto por sua mãe, uma mulher de grande personalidade. Para ter certeza que poderia fazer sucesso sem ela, Magal passou uma temporada na Europa a fim de se desvencilhar da influência dessa figura tão dominante.
Aos poucos, o documentário vai nos mostrando as várias fases da carreira do artista: seu início como dançarino, o sucesso como cantor, as experiências como ator e suas participações em novelas, filmes e musicais. Essa pluralidade artística é resultado do esforço de Magal em estar sempre sob os holofotes, dentro do personagem criado por ele mesmo. Esse efeito era reforçado todas as vezes que ele vivia nas telas ou no palco um indivíduo latino com certa ascendência cigana.
A dedicação à figura, presente no imaginário popular, chegou ao ponto de Magal ter que esconder por alguns anos que era casado para não perder o carinho das fãs. Curiosamente, os cantores de K-pop utilizam técnica semelhante hoje ao ocultar relacionamentos das seguidoras, que se sentem namoradas em potencial.
Produzido dentro de um formato clássico Me chama que eu vou utiliza-se de fotos, matérias de jornal e gravações de programas de TV para ilustrar os estágios da carreira do artista e atestar seu sucesso. A narrativa conta ainda com depoimentos do cantor, da esposa, Magali, e do filho, Rodrigo. Entretanto, por estar tão próximo do “homem por trás do mito”, a produção não revela grandes novidades sobre o artista.
Ainda que tente mostrar as diversas facetas de Magal, Me chama que eu vou reitera a figura do cantor como ícone pop e amante latino que esbanja simpatia. O título poderia ser mais interessante se aprofundasse o debate sobre intolerância musical, diretamente relacionada ao preconceito de classes brasileiro. Porém, a diretora conduz as entrevistas de maneira a tocar no tema apenas superficialmente. Mesmo com seu tom leve, o documentário agrega pouco ao tema da música popular ou mesmo à história de Magal, que felizmente é interessante e se sustenta sozinha. A verdade é que o longa carece de mais poesia.
*Essa crítica faz parte da cobertura Cinemascope do Festival de Gramado 2020.