Por Guilherme Franco
A animação destaque em Cannes e que ganhou o prêmio do público em Annecy (um dos maiores Festivais de Animação do Mundo) traz várias histórias de crianças órfãs. Quem guia o espectador em meio a essas várias crianças e suas histórias é Abobrinha, um menino de nove anos, sem pai e com uma mãe alcoólatra.
O filme é a adaptação do livro publicado em 2002: “Autobiografia de um Abobrinha”, do escritor francês Gilles Paris. Tendo sido adaptado para a TV em 2007 com o título “É melhor quando a vida é grande”, o filme voltou mais uma vez para o audiovisual, com maior destaque, chegando a ser uma das cinco animações finalistas no Oscar da categoria. A história escolhe trazer a quem assiste uma narrativa que, apesar de conter as duras histórias de abandono, violência doméstica e separação, tem a pureza e a leveza do olhar de uma criança, sempre caindo em algo lúdico ou em alguma forma que amenize essa grande dor da solidão. Abobrinha chega no orfanato e vai tocando a vida das outras crianças, de inúmeros países, de maneira a transformar cada uma em um sorriso.
Apesar de uma história comum, reforçando alguns estereótipos como o do “gordinho comilão” e do “casalzinho branco hétero”, o roteiro privilegia a ação, sempre somos colocados na cena com a ação acontecendo, sem enrolações. O filme tem um dinamismo e construção que agrada tanto a criança quanto o adulto. As tristes e dolorosas problemáticas são confrontadas propondo que o espectador saia satisfeito com um final feliz, mesmo que a realidade seja bem diferente disso.
“Nós somos todos iguais, não temos mais ninguém para nos amar ”
A obra fala sobre recusa. Várias vezes me peguei pensando sobre os vários tipos de solidão, e de como essa em especial se mistura ao abandono, em como seria sentir a solidão de uma criança como o Abobrinha. O filme também nos relaciona com a questão da família, do núcleo que se é estabelecido pelo senso comum, e de como essas crianças são capazes de construir uma nova família, com novos sentimentos. Claude Barras nos coloca diante uma experiência sensorial. Nesse sentido e no que toca a construção fílmica, lembramos do brasileiro O Menino e o Mundo, aqui temos um material que recorda a massinha, algumas vezes mesclados com tecidos e tintas. As olheiras e cabelo azul relembra até a tristeza de Divertida Mente, mas ao contrário desta, Abobrinha está disposto a novidades e ajudar seus amigos. As olheiras e a expressão facial são os pontos marcantes dos personagens e do estilo do diretor, que ajudam a dar as características e construção do personagem, além do tom melancólico, mas ainda assim, simpatizante da obra.
Minha Vida de Abobrinha traz um relato de esperança e luta em meio a inúmeras dores, injustiças e impossibilidades, tudo isso de forma calma e tocante. É o filme que as crianças precisam assistir para irem ganhando consciência social de vários problemas, mas de forma leve e artística.
Minha Vida de Abobrinha (Ma Vie de Courgette)
Ano: 2017
Direção: Claude Barras
Roteiro: Gilles Paris, Céline Sciamma, Germano Zullo, Claude Barras, Morgan Navarro
Elenco Principal: Gaspard Schlatter, Sixtine Murat, Paulin Jaccoud, Michel Vuillermoz
Gênero: animação
Nacionalidade: França
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