Por Luciana Ramos

Nebraska reafirma a predileção do diretor Alexander Payne em explorar os dilemas, angústias e crises existenciais de pessoas comuns. Sem grandes reviravoltas ou apelos visuais, explora com humor e uma pitada de melancolia os devaneios de um homem que acredita ter ficado milionário no fim da vida.

O filme começa  com o rabugento e alcoólatra Woody Grant (Bruce Dern) andando com dificuldade por uma via expressa. Quando devolvido pela policia à sua residência, entendemos o seu propósito: caminhar de Billings, Montana, onde reside até Lincoln, Nebraska para coletar o prêmio de um milhão de dólares que acredita ter ganhado. A sua família insiste em lhe dizer que a carta que tem em mãos não passa de um golpe publicitário e tal dinheiro não existe, mas ele está determinado. Em uma prova de afeição condescendente, David (Will Forte), seu filho mais novo e menos bem sucedido, decide realizar o seu desejo e o leva a uma jornada de carro pelos estados americanos.

A história aprofunda-se quando os dois chegam a Hawthorne, cidade natal do protagonista, e deparam-se com a inveja dos habitantes locais diante do suposto mais novo milionário. O lugar parece tão estagnado quanto Woody, e Payne aproveita a deixa para retratar de forma cômica os tipos que habitam as cidades interioranas dos EUA, como fez anteriormente em As Confissões de Schmidt (2002). Em uma cena hilária, um plano estático mostra vários membros da família Grant sentados na sala assistindo TV. Todos olham fixamente para a tela mas fazem comentários alheios que, juntos, formam um debate debochado sobre a duração da viagem de carro.

E assim caminha o filme, valendo-se de ótimas piadas para aprofundar pouco a pouco o seu tema. Porém, o ótimo roteiro de Bob Nelson não se sustentaria sem a magnífica atuação de Bruce Dern. Ele, que foi consagrado com o prêmio de Melhor Ator na edição passada de Cannes e indicado ao Oscar deste ano, transforma o seu corpo em instrumento narrativo na criação de um personagem que fala pouco e consegue balancear a personalidade pouco amigável de Woody com a sua fragilidade senil. Outro destaque fica por conta de June Squibb. No papel da falastrona Kate Grant,  ela incorpora com facilidade as contradições de uma esposa de muitos anos que sempre tem algo de sarcástico a dizer mas claramente ainda nutre a mesma afeição pelo seu marido.

A fotografia é outro ponto forte, por ser muito bem pensada. Filmado em preto e branco e granulado digitalmente para parecer tão desgastado quanto o protagonista, o longa contrasta planos panorâmicos de paisagens americanas, já esperados de um bom road movie, com closes que exploram as expressões faciais dos atores para acentuar o ar melancólico que permeia toda a trama.

Sem grandes picos emocionais ou resoluções fantásticas, mas ainda assim capaz de passar com eficiência a sua mensagem, Nebraska acerta na sutileza e consegue divertir e comover. Uma prova de que bons filmes podem ser ricos por serem simples.

Cinemascope - Nebraska posterNebraska

Ano: 2013

Diretor: Alexander Payne

Roteiro: Bob Nelson

Elenco Principal: Bruce Dern, Will Forte, June Squibb.

Gênero: Drama, aventura

Nacionalidade: EUA

 

 

 

 

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