Por Breno Bringel

Spike Jonze é um dos mais interessantes contadores de histórias do cinema contemporâneo. Com apenas quatro longas em seu currículo, incluindo o clássico moderno Quero Ser John Malkovich e o sensível Onde Vivem os Monstros, Jonze sabe como narrar histórias que, inicialmente, parecem estranhas, mas que com sua habitual sensibilidade, se tornam cada vez mais atraentes e identificáveis ao grande público.

Em seu mais recente trabalho, Jonze, que também assina o roteiro, conta a história de Theodore (Phoenix), escritor recém divorciado que desenvolve uma relação amorosa com o sistema operacional de seu novo celular, chamado de Samantha. Assim, dessa premissa absurdamente inusitada, Jonze extrai uma bela crítica ao isolamento e dependência cada vez maior das pessoas às tecnologias, além de ressaltar a consequente solidão trazida por este mundo virtual.

Theodore é um homem que, após um difícil divórcio, ainda mora no mesmo apartamento outrora ocupado pelo casal, onde revive momentos bons e ruins da finda relação, não conseguindo se libertar dos fantasmas do passado. Com um trabalho que reflete sua sensibilidade, mas também sua solidão, escrever cartas expressando sentimentos para desconhecidos, Theodore acaba por estabelecer uma ligação emocional com seus “clientes”, isolando-se cada vez mais do mundo real, até conhecer Samantha.

Assumindo um tom extremamente melancólico, o longa, por meio de sua fotografia pouco colorida, sua bela montagem, sobretudo nas cenas de flashback, e sua brilhante trilha sonora, composta pela banda Arcade Fire e o músico Owen Pallett, e usada com maestria por Jonze, tanto diegética quanto não diegeticamente, sobretudo na bela cena que se passa em uma praia, ressalta, também, a crescente solidão do personagem vivido por Phoenix. Figurinos e design de produção, inclusive, apresentam um aspecto interessante, pois, apesar do filme se passar em um futuro próximo, vários elementos da direção de arte e roupa dos personagens, por exemplo, remetem ao passado, ilustrando que os sentimentos transmitidos pela história são atemporais.

A direção de Jonze também é bastante inspirada, inclusive com o uso recorrente de planos gerais mostrando a cidade de Los Angeles, ressaltando, assim, o isolamento e solidão dos personagens e ilustrando, ainda, o quão insignificantes somos em relação ao todo que nos cerca, além do uso de primeiros planos e do foco sempre em Theodore, para que nos aproximemos emocionalmente dele.

O elenco do longa, também excepcional e composto por vários nomes famosos, é encabeçado por Joaquim Phoenix, entregando, aqui uma interpretação bastante emocionante. Assim, Phoenix consegue, por exemplo, passar tanto a solidão de Theodore, de uma maneira absurdamente verdadeira, como também, após conhecer Samantha, a inquietação e nervosismo desse personagem ao iniciar um novo e incomparável relacionamento amoroso.

Scarlett Johansson desenvolve um magnífico trabalho, ao atuar apenas com sua voz, e, por meio de inflexões e entonações, transmite todo o sentimento de Samantha em estar em uma relação afetiva, sobretudo o seu êxtase ao conhecer os mais variados aspectos da vida humana. Integram o elenco, Amy Adams, em uma bela interpretação, como a vizinha e amiga de Theodore, e Rooney Mara, como a ex-esposa do protagonista.

Apresentando um belo arco dramático, ao mostrar o começo, meio e fim de um relacionamento, e um final triste porém, de certa forma, feliz, Jonze nos brinda com o que talvez seja um dos filmes mais verdadeiros sobre o amor, além de ser também o melhor filme de sua curta e ótima carreira.

ElaEla (Her)

Ano: 2013

Diretor: Spike Jonze.

Roteiro: Spike Jonze.

Elenco Principal: Joaquin Phoenix, Amy Adams, Scarlett Johansson, Rooney Mara, Chris Pratt, Matt Letscher.

Gênero: Drama/Romance.

Nacionalidade: EUA.

 

 

 

Veja o trailer:

Galeria de Fotos:

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