Não é mais novidade para ninguém que a ceia de natal em família costuma ser um dos eventos mais estressantes do ano. Claro que, em geral, nós ficamos felizes de rever os parentes. Entretanto, situações embaraçosas com primos distantes somadas à tia que pergunta das namoradinhas e ao tio que insiste na piada do pavê geram um desejo comum de que a noite acabe rápido. Essa experiência familiar é desafiadora não apenas no Brasil ou na América, mas no mundo inteiro, inclusive na Polônia, como vemos em Noite Silenciosa.

No longa do diretor Piotr Domalewski acompanhamos Adam (Dawid Ogrodnik), um economista que descobre que sua namorada está grávida. A fim de mudar de vida e constituir família o jovem quer sair da Polônia e abrir um negócio na Holanda. Para isso, ele deseja vender a casa do avô e vê na noite de natal o momento propício para comunicar sua decisão para toda a família. O que Adam não sabe é que, quando se trata de negócios, os parentes podem ser criaturas mesquinhas e nada cooperativos, além de esconderem segredos traiçoeiros.

Dentro desse contexto a produção trabalha uma série de questões bastante comuns. Adam está numa situação financeira difícil e possui uma relação conturbada com o pai, a mãe e os irmãos. Mesmo assim ele aluga um carro imponente para demonstrar a todos que está bem. Aos poucos, o espectador percebe a frieza do pai com o filho economista e a preocupação exclusiva da mãe com Pawel (Tomasz Zietek), o filho mais novo. Além disso, os dois irmãos possuem um rancor mútuo devido a um desentendimento anterior.

Ao ampliarmos a análise sobre a estrutura familiar apresentada em Noite Silenciosa é possível identificar outros problemas bem recorrentes. Além de vários membros serem alcoólatras existem ali tratamentos abusivos, agressões maritais, consumo ilícito de drogas e um excessivo controle parental. À medida em que a trama avança as tensões se acirram, principalmente entre Adam e Pawel, e culminam num incêndio acidental. Nesse sentido, o fogo se mostra uma representação física dos sentimentos destrutivos que permeavam o íntimo dos familiares.

Contudo, o filme não consegue desenvolver bem nenhuma dessas questões e acaba por abordá-las superficialmente. As motivações dos personagens se mostram frágeis, sobretudo as de Adam. Por conta disso é difícil para o público criar uma relação de empatia com ele, visto que até metade do longa o real motivo que o levou a passar o natal com a família é desconhecido.

Nos aspectos técnicos a película não apresenta qualquer inovação. Talvez a única escolha válida seja o uso da câmera. A todo momento as figuras dramáticas se mostram ocupadas com tarefas para a ceia de natal e a lente capta não só essa inquietude, mas também as conversas que dela derivam. A narrativa assume ainda um tom amador por alternar imagens de qualidade com outras da câmera de Adam, que secretamente grava um vídeo para sua filha. Porém, isso não é o suficiente para salvar o ritmo do filme. Este se mostra monótono e tedioso, o que é agravado pela total ausência de música incidental e pelo roteiro simplista e previsível.

Em retrospecto, fica claro que Noite Silenciosa possuía todas as chances de se tornar um longa imersivo, visto que aborda situações comuns à maioria das pessoas. Mas o desenrolar raso da narrativa, a crueza dos atores e os personagens pouco carismáticos acabam por desconectar o público. Isso gera uma experiência cinematográfica esquecível e bem mais dolorosa que um natal em família.

*Essa crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Noite Silenciosa

 

Ano: 2017
Direção: Piotr Domalewski
Roteiro: Piotr Domalewski, Helena Szoda-Wozniak
Elenco principal: Dawid Ogrodnik, Tomasz Zietek, Agnieszka Suchora
Gênero: ​Drama, Comédia
Nacionalidade: Polônia

Avaliação Geral: