Por Guilherme Franco
Branco, preto, pardo. Vermelho, azul, amarelo.
O ser humano sempre se pautou pelo poder e seu instinto imperialista. Achamos positivo deixar nossa marca em tudo que fazemos, até inconscientemente. O colombiano indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro traz para os espectadores um lado da perspectiva colonizadora. A narrativa é conduzida pelo xamã Karamakate em duas idades (Nilbio Torres e Antonio Bolívar) e por dois aventureiros brancos: Theo (Jan Bijvoet), um senhor doente à beira da morte e Richard Evan (Brionne Davis), um pesquisador jovem que quer encontrar uma planta quase extinta de grandes poderes medicinais, em uma odisseia pela Floresta Amazônica.
“Formigas gostam de dinheiro, eu não, o gosto é ruim. ”
Ciro Guerra coloca muitas discussões em seu novo filme, vemos por exemplo o reflexo não simétrico entre o branco “civilizado” e o índio/pardo “não civilizado”. O índio vive sozinho, buscando na natureza seus saberes e sua afetividade, já o branco necessita do contato, da proximidade social. Somos emotivos e materialistas (precisamos de objetos para lembrar de pessoas), vemos os animais como “menores”, e a cada cena do filme isso é jogado na nossa cara, mostrando como, sob essa perspectiva, somos frágeis.
“Se esses barões da borracha são homens, eu sou uma cobra. ”
O Abraço da Serpente faz jus a sua indicação, com uma fotografia belíssima e algumas diferenças entre cenas, o branco e preto é supervalorizado e a luz trabalhada com respeito e sensibilidade. A trilha sonora lembra algo como o som de circo misturado a magia e os chiados dos animais da floresta, esse tom mágico e misterioso que ronda o filme inteiro certas vezes sendo quebrado com alfinetadas político-sociais do roteiro. Idiomas (espanhol, português, inglês e língua indígena) se misturam em meio ao cenário da Amazônia colombiana e isso vem somente para enriquecer a técnica da obra e mostrar a amplitude dessa questão egocêntrica que persiste até hoje.
A produção colombiana (mas também argentina e venezuelana) consegue trazer uma obra com o tom ideal de poesia, por meio da manipulação sublime da fotografia, do design visual, roteiro e tempo fílmico, misturado a todo um contexto histórico de extrema importância, da extração de borracha, do ideal preconceituoso de civilização e todo o massacre na América Latina. No final do longa são utilizados alguns recursos gráficos mal inseridos, que geram um tom dessintonizado com a estética geral da obra. Vale lembrar de uma das cenas mais ilustres, em que cobras estão parindo filhotes e ao mesmo tempo comendo parte deles, e todo esse apogeu significativo do filme que é servido em uma bandeja de prata.
O Abraço da Serpente (El Abrazo de la Serpiente)
Ano: 2015
Direção: Ciro Guerra
Duração: 125 min.
Gênero: Drama
Nacionalidade: Colômbia
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