“Ele é um homem ou uma besta?” A pergunta, feita pelo personagem de Willem Dafoe em O Beco do Pesadelo refere-se a um homem – simplesmente um viciado – apresentado em seu freak show (show de horrores) como uma aberração. Esse tipo de atividade era muito comum nos Estados Unidos até a primeira metade do século 20. Nos locais de exibição, que eram uma mistura de circo com parque de diversões, pessoas com deficiências ou corpos considerados “fora do normal” eram mostradas como anomalias, frequentemente de forma desumanizadora, para o entretenimento do público.
Esse é o pano de fundo do mais recente filme do cineasta mexicano Guillermo del Toro. Conhecido por sua paixão pelos monstros (vide O Labirinto do Fauno, Hellboy, A Forma da Água), o diretor costuma trazer à tona o lado humano de seus personagens mais monstruosos. O Beco do Pesadelo, no entanto, segue por um caminho contrário, terminando por revelar a monstruosidade inerente aos seres humanos.
Assim como outros longas de del Toro, o filme é visualmente interessante, em estilo neo noir, trazendo uma atmosfera sinistra para adaptar o livro de William Lindsay Gresham (publicado em 1946 e levado para o cinema pela primeira vez em 1947). Na história, Stan (interpretado por Bradley Cooper), um homem ambicioso e com um passado violento, acaba arrumando emprego em um circo de horrores, onde conhece a bela Molly (Rooney Mara). Observando de perto o trabalho de um casal de videntes (Toni Collette e David Strathairn), ele aprende os truques para se tornar um mentalista de sucesso.
Algum tempo depois, rodando o país com seu próprio show e enfrentando problemas com a parceira Molly, Stan acaba chamando a atenção da psiquiatra Lilith (Cate Blanchett, incorporando uma verdadeira femme fatale). Juntos, eles planejam enganar um dos homens mais poderosos da cidade, mas o golpe acaba se desviando dos planos e Stan é forçado a se deparar com seu lado mais obscuro.
O Beco do Pesadelo é um filme longo, mas esse aspecto não chega a incomodar. Talvez uma das questões mais mal resolvidas tenha a ver com os relacionamentos entre os personagens. Embora o elenco seja recheado de excelentes atores, muitas vezes a química entre eles deixa um pouco a desejar – talvez por conta da fotografia que favorece as sombras, em detrimento das expressões dos atores.
As motivações dos personagens também não são muito bem explicadas e, por conta disso, as reviravoltas acabam se tornando menos surpreendentes do que poderiam ser. Logo no início, já é possível perceber que tudo acabará em tragédia. Apesar disso, é curioso ver como os acontecimentos se desenrolam para que o drama se concretize, fechando o círculo narrativo.
O Beco do Pesadelo foi indicado a 4 Oscars (melhor filme, direção de arte, figurino e cinematografia). Uma peculiaridade é que sua produção foi iniciada antes da pandemia, que obrigou as gravações a serem interrompidas por cerca de um ano. O lançamento nos cinemas foi em dezembro de 2021, mas o filme não teve uma bilheteria muito expressiva. Embora não seja o melhor trabalho de Guillermo del Toro, é bom o suficiente para entreter e mostrar que, quanto mais alta a subida, maior a queda.
O Beco do Pesadelo
Ano: 2021
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro, Kim Morgan, William Lindsay Gresham
Elenco principal: Bradley Cooper, Cate Blanchett, Toni Collette, Rooney Mara, Willem Dafoe, Richard Jenkins
Gênero: Drama, Policial, Suspense
Nacionalidade: Estados Unidos, México, Canadá