Por Katia Kreutz
Para os olhos ocidentais, o cinema asiático tem algo de estranho, até mesmo exótico. São costumes e comportamentos diferentes do que estamos acostumados, muitas vezes retratados de maneira que consideramos excêntrica. O Dia Depois (Geu-hu) é um daqueles filmes que consegue manter essa atmosfera desconhecida e inesperada, mas contando uma história com temas universais, com os quais qualquer pessoa pode se identificar.
O longa gira em torno de Bongwan (Kwon Hae-hyo), um homem de meia-idade que é dono de uma pequena editora em Seul. Logo na primeira cena, ele é confrontado por sua esposa (Cho Yun-hee), que desconfia que o marido esteja tendo um caso. Ela chega a ir até o trabalho dele e acusar a nova funcionária, a jovem Areum (Kim Min-hee), de ser a amante.
A partir dessa desconfiança, o diretor Hong Sang-soo vai tecendo uma trama delicada sobre as conexões humanas e suas consequências. O protagonista é extremamente humano em suas falhas e confusões. Ele ultrapassa várias linhas do que é considerado apropriado em seu relacionamento com sua antiga assistente (Kim Sae-byeok), mas ao mesmo tempo demonstra enorme fragilidade ao abrir o coração para a desconhecida Areum.
Com sua narrativa não linear, ritmo metódico e estética simples, filmado totalmente em preto e branco, O Dia Depois é um retrato despretensioso do cotidiano de um homem que não foi capaz de evitar uma paixão proibida e acaba pagando por isso. Ao mesmo tempo em que se tortura por seu comportamento, ele lamenta ter perdido contato com a amante e ainda pensa nela com nostalgia.
Todos os personagens – o marido infiel, a mulher traída, a amante e a inusitada testemunha – são desenvolvidos de maneira sensível e paciente, em sua maior parte por meio de diálogos nos quais os interlocutores estão sentados um em frente ao outro, de perfil, separados por uma mesa. A recorrência desse tipo de enquadramento deixa a impressão de que o espectador faz parte das conversas, como um observador atraído para dentro do drama de cada personagem.
Amor, culpa, ciúme, admiração, arrependimento… As emoções que cercam Bongwan o aprisionam em uma vida que não é dele. A infidelidade, aqui, acaba sendo apenas um ponto de partida para um mergulho em assuntos mais profundos, em especial sobre a transitoriedade das relações e a fugacidade dos momentos que vivemos. Coisas que nos parecem tão importantes hoje, que nos causam imenso sofrimento e angústia, podem não significar nada no futuro. A verdade é que até mesmo nossos piores erros acabam sendo esquecidos, com o passar do tempo. Talvez precisemos todos, assim como o protagonista do filme, aprender a aceitar que as coisas (e as pessoas) simplesmente mudam.