Sem dúvida o mais icônico super-herói de todos os tempos, Superman é uma figura complicada de ser trabalhada nos cinemas. Sua invulnerabilidade é um fator decisivo para o afastamento emocional do personagem com o público (vide o Batman, cuja persona é mais identificável pelo fato de Bruce Wayne ser apenas um humano), e foi justamente esse ponto que Zack Snyder buscou corrigir com O Homem de Aço: o lado “humano” do herói.
A trama é roteirizada por David Goyer, a partir de um argumento elaborado por este e o diretor Christopher Nolan, retomando a origem do Superman (Henry Cavill) desde a partida de seu planeta condenado Krypton até a chegada na Terra. Enquanto aprende a controlar seus poderes e descobrir mais sobre seu passado, é perseguido pela determinada jornalista Lois Lane (Amy Adams) e pelo implacável general Zod (Michael Shannon), um remanescente de sua espécie que traz a promessa de destruição ao planeta.
É irônico que este novo filme concentre-se no lado mais emocional do Superman – e proponha uma abordagem mais realista quanto à sua posição na sociedade – ao mesmo tempo em que abrace pesadas doses de ficção científica. Goyer explora a fundo a mitologia de Krypton (e o design de produção de Alex McDowell impressiona pelo visual dark e com claras influências de H.R. Giger) e oferece um intrigante clima alienígena ao herói, Zod e seus comparsas: a cena em que o militar promove uma transmissão mundial afirmando que os humanos “não estão sozinhos” funciona espantosamente bem por remeter a grandes longas que tratam sobre invasões extraterrestres. Nesse sentido, a fotografia do iraniano Amir Mokri aposta em uma coloração predominantemente fria e repleta de elegantes luzes em flare (essa foi pra você, JJ Abrams), enquanto o diretor Zack Snyder deixa de lado o slow motion e adota a técnica de câmera-na-mão durante toda a projeção – uma decisão que afeta de maneira positiva as espetaculares cenas de ação do filme.
Snyder e Goyer acertam também na estrutura escolhida para contar a origem do herói. Ainda que o constante uso de flashbacks quebre a linearidade esperada de um filme de apresentações, serve como uma eficiente forma de narrar o desenvolvimento de Clark sem se limitar a refazer o original de 1978 (como foi o grande problema de O Espetacular Homem-Aranha, prejudicado pelas gritantes semelhanças com a trilogia de Sam Raimi) e ao posicionar cada volta no tempo em pontos-chave da narrativa. Merece aplausos o trabalho do montador David Brenner, que proporciona ritmo ao filme e elabora transições de cena criativas que até servem para criar humor: o momento em que os militares avistam as naves alienígenas com seus satélites é logo seguido por um painel que traz um ameaçador alerta de “Emergência”, apenas para revelar-se uma inofensiva impressora pedindo por cartuchos de tinta.
O que nos leva ao protagonista Henry Cavill. Mais conhecido por sua participação na série de TV The Tudors, o ator inglês faz um ótimo trabalho ao criar um Superman “em fase de gestação”, cheio de dúvidas e ainda longe de tornar-se a figura bondosa e politicamente incorreta pelo qual é conhecido (aqui, Clark até usa suas habilidades para vingar-se de um estranho) e por carecer de um senso de responsabilidade por suas ações; já que praticamente destrói toda a cidade em suas batalhas épicas. Vale apontar também a competência de Russell Crowe e Kevin Costner no papel das figuras paternas de Clark e como Amy Adams e Diane Lane criam mulheres fortes (ainda que a performance de Adams já fosse o bastante, tornando desnecessário que a jornalista pegasse em armas) e protetoras. Para fechar, Michael Shannon faz um vilão memorável ao acrescentar motivos reais para as ações de seu Zod; mesmo que seu plano seja uma cópia descarada do de Sentinel Prime em – sim, que vergonha – Transformers: O Lado Oculto da Lua.
O Homem de Aço oferece uma interessante reinvenção para o Superman. Não chega à altura do trabalho realizado por Christopher Nolan em sua trilogia do Cavaleiro das Trevas, mas representa um grande passo da DC Comics nos cinemas e reacende a franquia de um personagem que simplesmente não pode cair no esquecimento. Que venha mais!
O Homem de Aço (Man of Steel )
Ano: 2013
Diretor: Zack Snyder
Roterista: David S. Goyer, Christopher Nolan.
Elenco principal: Henry Cavill, Amy Adams, Russel Crowe, Diane Lane, Michael Shannon.
Gênero: Aventura
Nacionalidade: EUA
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