Por Domitila Gonzalez
A premissa de que existiu um grupo na inteligência britânica, durante a Segunda Guerra Mundial, que criou uma máquina para decifrar as mensagens criptografadas emitida por uma máquina do exército alemão, por si só, já é interessante.
Alternando períodos de tempo, a história da equipe que decifrou a máquina Enigma, focada na vida do matemático Alan Turing, é contada com calma. E essa é a maior virtude do filme. Diferentemente de outras produções sobre conflitos armados, esta leva em conta muito mais a estratégia do que o frisson contido no período histórico.
Não é um roteiro de grandes produções, contudo. Aliás, é um roteiro bem simples, quase didático. A maioria do enredo acontece dentro de pequenos espaços: a sala de interrogatório, o galpão no qual a equipe trabalha, o gabinete do diretor, uma sala de aula. E, ao fim do filme, temos a impressão de que realmente não foi necessário expandir o ambiente para que a história pudesse ser fruída naturalmente.
Como acontece com quase toda grande personalidade, o mundo cinematográfico se encarrega de fazer um grande filme sobre ela. Cumberbatch dá o ar da graça no papel do protagonista e consegue se sair muito bem interpretando Turing. Mas, em relação a filmes sobre gênios da ciência, quem tem destaque no Oscar, desta vez, é Eddie Redmayne em A Teoria de Tudo.
Comparando as duas produções, O Jogo da Imitação, apesar de ser um longa-metragem muito bem executado, não tem nem de longe o apelo emocional que tem A Teoria de Tudo. E tudo bem. Por outro lado, o cuidado com os detalhes transparece nas produções britânicas e, devo dizer, um filme simples, bem executado, é tão incrível ou mais do que uma superprodução hollywoodiana.
A construção de Cumberbatch sobre Turing toma forma na tela como um estranho que beira o esquisito. Achei que veria mais um Sherlock, mas acabei topando com um excelente ator, cheio de recursos, numa composição boa e muito bem dirigida por Morten Tyldum. É bonito ver as sutilezas, as pinceladas de humor e a maneira com a qual uma personagem completamente antipática consegue cativar o espectador quase imediatamente. Keira Knightley também vem de maneira suave, o que só acrescenta.
Há quem diga que talvez tenha faltado um toque de pimenta ao filme. Mais corridas, mais fracassos, mais tentativas falhas que levariam a uma conquista mais saborosa. Por outro lado, trabalhar no profundo da não-humanidade transparece o quanto ainda temos que aprender a assistir a um filme como esse.
O Jogo da Imitação está concorrendo ao Oscar em oito categorias: Melhor filme, Melhor Diretor (Tyldum), Melhor Ator (Cumberbatch), Melhor Atriz Coadjuvante (Keira Knightley), Melhor Roteiro Adaptado (Graham Moore, baseado no livro “Adam Turing: O Enigma“, de Andrew Hodges), Melhor Edição, Melhor Design de Produção e Melhor Trilha Sonora (Alexandre Desplat, um dos meus compositores favoritos, indicado também por A Teoria de Tudo).
O Jogo da Imitação (The Imitation Game)
Ano: 2014
Direção: Morten Tyldum.
Roteiro: Graham Moore, baseado no livro de Andrew Hodges
Elenco principal: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode.
Gênero: Biografia, Drama, Thriller, Guerra.
Nacionalidade: Inglaterra, EUA.
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