Por Joyce Pais

 

O que se move é o resultado de uma produção do coletivo paulista Filmes do Caixote, grupo que inclui entre seus membros Juliana Rojas e Marcos Dutra, diretores do bem sucedido Trabalhar Cansa (2011), que no longa do diretor e roteirista Caetano Gotardo são responsáveis pela montagem e música, respectivamente.O diretor faz um recorte de três notícias que o impactaram anos atrás e as conta jogando luz sob acontecimentos, que na cadeia de produção jornalística podem não ter rendido tanta visibilidade e efeito, pelo simples fato de que se repetem quase diariamente, logo, se tornam “banais”. Para ele, cada história escondia uma ‘subtrama’, da qual seria possível se desprender sentimentos densos e controversos.

O estreante Caetano Gotardo é ambicioso e oferece uma direção habilidosa e segura ao relatar o cotidiano dessas famílias, sempre centrado nas figuras das mães, interpretadas por atrizes com larga experiência no teatro (Fernanda Vianna levou o prêmio de melhor atriz no Festival de Gramado 2012 e integra o Grupo Galpão, companhia teatral mineira), talvez seja por isso que algumas cenas soem artificiais, sobretudo na primeira história, o que de forma alguma compromete o desenvolvimento do longa, que ao abordar o realismo cotidiano transita entre os campos da realidade e do lirismo.

As três narrativas possuem a mesma essência: a dificuldade de lidar com a perda de alguém e seguir em frente depois de um evento traumático. É difícil entrar em maiores detalhes sobre as histórias sem soltar spoilers que interfiram na experiência de quem vai assistir ao filme, mas pode-se dizer que o filme trabalha em cima das lacunas deixadas pela ausência imposta à nova realidade de quem passa por uma situação profunda de perda.

Três histórias. Três núcleos familiares. Todas se encerram com a mãe de cada família cantando. Ainda que a princípio possa causar certo estranhamento, a escolha se deu devido à intenção do diretor de provocar o “transbordamento” daquele personagem, incapaz de expressar a intensidade de seu sofrimento apenas em palavras. As vozes que surgem desafinadas remetem às imperfeições da vida, que subitamente pode mudar o seu rumo.

O filme brinca o tempo todo com tempo e movimento. As primeiras cenas que nos introduz na história são cheias de diálogos banais, que seriam totalmente dispensáveis se não tivessem a intenção de nos ambientar na rotina daquele garoto e, assim, desenvolver uma identificação por ele e consequente compaixão pela dor de sua mãe quando a história tem o seu desfecho. A lente de Gotardo enxerga as pessoas por trás dos fatos e o faz de maneira delicada e muito madura.

Um dos maiores méritos de O que se move é não se render ao melodrama barato, ainda que o seu tema tenha abertura e apelo para isso e, ao final, ser capaz de acenar para uma possibilidade de superação e até de felicidade que, após o choque (e a perda), se transfigura em novas formas.

 

O que se move (7)O que se move

Ano: 2012

Diretor:  Caetano Gotardo.

Roteristo: Caetano Gotardo.

Elenco Principal: Cida Moreira, Andrea Marquee, Fernanda Vianna.

Gênero: Drama

Nacionalidade: Brasil

 

 

Veja o debate com o diretor, produção e elenco do filme:

Veja o trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=WG1RmME71JA

Galeria de Fotos: