Por Guilherme Franco
“Mulher é coisa do diabo, quando quer sacanear então…”
Novo longa de Aly Muritiba traz um mix de drama, reviravoltas e cutucões na ferida do hipocritamente correto. Após a morte de sua esposa, o fotógrafo Fernando (Fernando Alves Pinto) se torna um homem fechado e excentricamente sozinho. Como clara evidência de que ainda não aceitou a morte de sua esposa, ele vive cercado de objetos pessoais de sua amada. A cada cena o filme vai se intensificando, um dia ele descobre uma fita VHS e começa a investigar mais sobre seu conteúdo.
“A mulher é sempre mais fácil entender.”
Nesta obra, mais uma vez temos as falhas das relações da família tradicional expostas e dissecadas, você vai descobrindo podre atrás de podre e não sabe se fica desconfiado em relação ao protagonista, com raiva do coadjuvante ou se deseja ajudar outra personagem. O longa consegue trazer drama e sensacionalismo sem ser sensacionalista. Parece redundante a frase que acabara de ser dita, mas o filme possui uma forte carga dramática que tenderia a uma abordagem sensacionalista, mas apenas envolve quem assiste. Quando percebemos, já fomos totalmente capturados pelo filme, com ingresso de volta somente quando acaba e tudo se revolve, ou não. Um drama com muitos aspectos de thriller, singularidades refletidas pelo tempo em que Aly Muritiba trabalhou na penitenciária e na CPTM.
A atuação do Fernando é algo a prestar atenção, o ator mantém uma voz arrastada em boa parte do filme e nos mostra como o personagem está extasiado violentamente. Fernando (personagem) mostra uma forte relação com as roupas de sua esposa, num eterno estado de luto e inconformismo. Outra característica marcante é o cigarro, sempre presente nas mãos do personagem, se portando como um prendedor que fixa Fernando no varal da narrativa.
Os detalhes não podem ser esquecidos, como a fotografia de Pablo Baião, que também fez a novela Verdades Secretas e foi da equipe de câmera de Tropa De Elite, Cidade de Deus, Diários de Motocicleta, entre outros. Pablo apresenta uma fotografia escura que se encaixa com o filme, mas ele e a direção de arte poderiam ter trabalhado um pouco mais com as cores. No curta do diretor, Tarântula, a excentricidade é refletida por meio da paleta de cores e do design de produção. Já neste trabalho, não há nenhum destaque nesse sentido, o que não diminui em nada a qualidade da obra, mas seria uma oportunidade de trabalhar pontos marcantes. Para a construção das suposições de suspense durante a narrativa, o diretor optou por utilizar vários planos-sequência, o que também trouxe uma identidade para a obra, como a do cachorro, que é estrategicamente construída.
A construção de pequenos pontos de crítica social, como a imposição e estereotipação do comportamento da mulher, poderiam ter sido aprofundados, mas não sendo sua proposta, também não deixa nenhuma lacuna. É um longa que merece ser conferido e ter, posteriormente, suas reviravoltas refletidas e analisadas.
Ano: 2015
Direção: Aly Muritiba
Roteiro: Aly Muritiba
Elenco Principal: Fernando Alves Pinto, Mayana Neiva, Lourinelson Vladmir
Gênero: Drama
Nacionalidade: Brasil
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