Filme de abertura da 9ª edição do Olhar de Cinema, Para onde Voam as Feiticeiras é o novo longa de Eliane Caffé, codirigido por Carla Caffé e Beto Amaral. Com uma narrativa fluida e pouco apegada a formas consagradas, o documentário acompanha um grupo de performers LGBTQIA+ em intervenções artísticas no centro da cidade de São Paulo.

Assim como outras obras conduzidas por Caffé, a produção usa o cinema a favor de uma causa. Foi assim em Era o Hotel Cambridge, com a FLM, e é assim em Para onde Voam as Feiticeiras, com a realidade das minorias sociais. Atuando também como editora, Eliane une as histórias com um fio delicado que converge para um mesmo ponto as questões da população negra, dos indígenas e do movimento LGBTQIA+.

Por meio de performances artísticas que envolvem músicas, slams e muito pajubá, a narrativa apresenta ao espectador a beleza que existe na diversidade e tem disposição para ensinar aqueles que querem aprender. Das falas proferidas nesse processo, duas chamam a atenção: a primeira é que “o poder mantém suas alianças enquanto as minorias estão fragmentadas”, algo sintomático visto que o filme foi gravado antes das eleições de 2018. A segunda é “não precisamos amar nossos aliados”, fator que se torna evidente nos constantes embates sócio-políticos entre os membros do grupo.

Sem uma apresentação formal num primeiro momento, Para onde Voam as Feiticeiras está mais interessado em dar voz àqueles que não são ouvidos do que identificar cada integrante do grupo. Vamos conhecendo um pouco delxs e de suas histórias ao longo do documentário, sempre intercalando as opiniões dos performers  com a de transeuntes que habitam o centro de São Paulo.

Muito marcado pela forma característica de Caffé, o filme é um verdadeiro mosaico de histórias e imagens heterogêneas, onde a câmera insere o público na ação. A montagem mescla cenas documentais de filmes e notícias de jornal para contextualizar a reatividade das personas que vemos na tela. Tal artifício emociona por gritar a urgência de debate das pautas apresentadas ali.

Ao final, fica o desejo um tanto infantil de que as feiticeiras da diversidade mudem com um aceno de varinha o senso comum do Brasil, que se mostra um país machista, racista, homofóbico, intransigente e retrógrado. Deixando a fantasia de lado, Para onde Voam as Feiticeiras nos diz que, para conseguirmos mudar a nossa situação atual, é preciso dar a mão para aqueles que estão dispostos a fazer algo novo e, só depois disso, problematizar as diferenças entre cada grupo minoritário. Só assim formaremos uma maioria diversa que luta pela equidade e sem deixar nenhum direito para trás.

* Esta crítica faz parte da cobertura do Cinemascope sobre o Festival Olhar de Cinema

Para onde voam as feiticeiras

 

Ano: 2020
Direção: Eliane Caffé, Carla Caffé e Beto Amaral
Elenco principal: Ave Terrena Alves, Fernanda Ferreira Ailish, Gabriel Lodi, Mariano Mattos Martins, Preta Ferreira, Thata Lopes, Wan Gomez
Gênero: ​Documentário
Nacionalidade: Brasil

Avaliação Geral: 4