Por Wallacy Silva
Alice (Alice Taglioni) é uma farmacêutica que beira os 30 anos. Solteira, e fissurada em tudo que envolve Woody Allen. Desde mais jovem ela parece ter um problema para assumir uma excessiva feminilidade. A família reprova o comportamento da garota e está constantemente atrás de pretendentes para Alice. A estreante Sophie Lellouche parte dessa frágil premissa para tentar homenagear o consagrado diretor norte-americano, realizador de filmes como Manhattan e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa.
A produção não poupa esforços no que diz respeito às referências: o quarto da moça tem livros de Shakespeare, discos de Cole Porter, muitos remédios (remetendo a hipocondria, comum nos protagonistas do diretor), ela sofre com frustrações em seus relacionamentos, os pais dela são judeus e a trilha sonora é de jazz. Ela também conversa com um pôster do Woody, dirigindo-se a ele com vários questionamentos, que são respondidos toscamente com trechos das falas de filmes, citações famosas do trabalho de Allen.
O roteiro acerta quando aposta em situações inusitadas (como o hábito da protagonista de prescrever filmes para os clientes ou a cena do assalto, por exemplo), que conseguem produzir humor, mas passando longe do humor inteligente que é uma das marcas do homenageado. No entanto, a inserção de subtramas acaba enfraquecendo a trama principal (que já não é lá essas coisas). Alguns “mistérios” são introduzidos no anseio de emular mais ainda a filmografia de Woody Allen, remetendo a longas como Um Misterioso Assassinato em Manhattan. Alice tenta descobrir se o cunhado está traindo a irmã (e pra isso até invade o apartamento do casal) e também revelar a identidade do enigmático namorado de sua sobrinha. Mas e o foco, não era a vida de Alice, seus relacionamentos e sua relação com o cinema?
Paris-Manhattan é uma grande miscelânea de referências tiradas de trabalhos que, apesar de serem do mesmo diretor, têm características diferentes, que não poderiam estar em perfeita harmonia em um único filme. A surpresa do final pode entrar no hall das “situações inusitadas”, divertida, mas pouco funcional na história. E o caminho traçado pela personagem é apenas o mesmo clichê de tantas outras comédias românticas. Lellouche tentou, mas seu filme-homenagem não fez jus ao nome de Allen, e não deve agradar aos fãs do diretor. Se ela futuramente resolver homenagear outra figura do mundo do cinema, espero que ela se preocupe menos em fazer alusões aos filmes de seu alvo e mais em oferecer ao espectador no mínimo um sopro de originalidade.
Ano: 2012
Diretor: Sophie Lellouche.
Roteiro: Sophie Lellouche.
Elenco Principal: Alice Taglioni, Patrick Bruel, Marine Delterme, Louis-Do de Lencquesaing, Yannick Soulier, Michel Aumont, Marie-Christine Adam, Margaux Châtelier.
Gênero: Comédia.
Nacionalidade: França.
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