Por Felipe Teixeira

Em tempos de controversas (e revoltantes) pesquisas brasileiras relacionadas ao machismo no país, o drama venezuelano Pelo Malo é um cruel retrato do impacto do “caráter de macho” em uma sociedade preconceituosa. Quem sofre tal descriminação no filme é Junior (Samuel Lange Zambrano), um menino de apenas nove anos que vive com a intolerante mãe e o irmão recém-nascido em uma pobre Venezuela. Negro de cabelo cacheado, a grande vontade do rapaz é conseguir alisar o penteado para ficar mais bonito na foto da escola, sonho impedido por sua péssima condição financeira e pela negação da mãe.

As inúmeras tentativas de Junior em alisar o cabelo (que vão da chapinha à maionese) são somente mais uma fonte de irritação para sua mãe Marta (Samantha Castilho), uma viúva desempregada que passa praticamente todo o filme atrás de dinheiro. Inconformada com a aparente homossexualidade do filho, interessado por dança e moda, a solitária mulher reprime os desejos dele e, em uma constrangedora sequência, tenta até mostrar ao rapaz o “amor” em uma relação heterossexual. Apesar de algumas atitudes reprováveis da personagem, a atuação segura de Samantha e o roteiro inteligente do longa evita o maniqueísmo e não a transformam em uma pessoa completamente maldosa. A personalidade de Marta é moldada pelo abandono do mundo ao seu redor e pela inexperiência como mãe e dona de casa.

A trama simples do longa-metragem acompanha o cotidiano da pequena família, enquanto o roteiro de Pelo Malo é hábil em expor uma série de problemas sociais do país como pano de fundo. Para o menino Junior, fica claro que o provável único caminho para o sucesso é ter cabelo bom e ser bonito, o que a intensa cobertura da mídia sobre os concursos de Miss, repletos de glamour e extravagância ressaltam ainda mais. Além disso, uma rápida conversa no parque entre crianças sobre a recorrência do estupro em determinado local, assim como a possibilidade de Junior ser gay o proteger de ser tornar um criminoso, remetem ao altíssimo nível de violência do país.  Em um triste (e inacreditável) evento recente, a própria Miss Venezuela do ano de 2004 foi assassinada durante um assalto no país.

A diretora Mariana Rondón recebeu críticas por grande parte dos chavistas por conta de sua adaptação caótica da Venezuela. Por isso, não espere mensagens otimistas ou perspectivas esperançosas ao assistir o filme. Pelo Malo é um retrato cru e realista, assim como a vida pobre de grande parte da Venezuela e o cenário homofóbico de tantos países.

Cinemascope-pelo-malo (8)Pelo Malo 

Ano: 2013

Diretor: Mariana Rondón

Roteiro: Mariana Rondón

Elenco Principal: Beto Benites, Samantha Castillo, Samuel Lange Zambrano.

Gênero: Drama

Nacionalidade: Venezuela/Peru/Argentina/Alemanha

 

 

 

 

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