Por Luciana Ramos
No começo dos anos 50, a jovem Philomena Lee (Sophie Kennedy Clark) é internada em um convento em Roscrea, na Irlanda, por ter engravidado antes do casamento. Os termos da sua estadia incluíam trabalho nas instalações do lugar, direito a ver seu filho uma hora por dia e a assinatura compulsória de um termo no qual abria mão da criança. Um dia, ela observa desolada o pequeno Anthony ser levado por um casal que o adotou em troca de mil libras. Meia década depois, a história chega aos ouvidos de Martin Sixsmith (Steve Coogan), um ex-jornalista da BBC que acabara de ser demitido do seu cargo no Governo Blair. Decidido a escrever um artigo de “interesse pessoal”, parte com ela, agora com mais de 70 anos (interpretada nesta fase por Judi Dench), em busca de informações que levem ao paradeiro do filho perdido.
Ainda que em momento nenhum a história denomine o convento de tal maneira, é clara a sua alusão as chamadas “Madaglene Laundries”, ou “Lavanderias de Madalena” em tradução livre. Estas eram instituições católicas comandadas por freiras que, na década de 50 e 60, acolhiam mulheres consideradas pecadoras e as forçava a trabalhar em lavanderias mediante agressões físicas e morais, como relatado no ótimo filme Em nome de Deus (The Madaglene Sisters, de Peter Mullan). Ainda que não se encaixe totalmente nos padrões de tais estabelecimentos, algumas similaridades podem ser observadas: Philomena é constantemente repreendida por freiras e, em uma cena, aparece lavando lençóis. Por esta razão, a obra foi atacada por líderes católicos conservadores, que o qualificaram como “uma propaganda contra a Igreja”.
Coogan, que coescreveu o roteiro, negou as acusações reiterando a abordagem pessoal da trama. São feitos questionamentos morais e religiosos sim, vindos em grande parte do seu personagem, mas a trama foca-se na capacidade de perdoar da sua protagonista, sua fé inabalável e busca por conforto espiritual. Tudo isso tão bem amarrado que em momento algum assume tom doutrinário ou cai na mesmice. Pelo contrário, é encantador e comovente, devidamente suavizado pelo humor vindo do extremo contraste dos personagens principais.
O humor irônico britânico é usado como ferramenta, servindo ao mesmo tempo para delinear os personagens e suavizar a trama. Os ótimos diálogos que contrapõem o falatório incessante da protagonista sobre banalidades com o refinamento intelectual de Martin rendem os momentos mais engraçados do filme. Ademais, a direção precisa de Stephen Frears, que concorre ao Oscar por este trabalho, soma-se a beleza da trilha sonora do veterano Alexander Desplat, também indicado, e confere qualidade técnica à obra.
No entanto, o diferencial do longa está nas excelentes atuações. Steve Coogan, famoso por fazer comédias, consegue equilibrar as conflitantes emoções do jornalista, dando densidade ao mesmo sem deixá-lo chato. Como já era esperado, é Judi Dench que rouba a cena em uma performance merecidamente reconhecida pela Academia. A sua Philomena é uma mulher de raciocínio e preferências limitados, mas com um coração enorme, retratada com delicadeza pela atriz. Pequenos gestos e expressões faciais revelam as suas alegrias e angústias. Em uma cena, quando a identidade atual do seu filho é revelada, ela deleita-se ao saber que uma vez ele falou “Olá” a Martin e repete a palavra diversas vezes de maneira animação infantil, expondo toda a sua vulnerabilidade.
A força do filme está na história real de uma mulher que teve o filho tomado dos seus braços e, cinquenta anos depois, lutou para tê-lo de volta, de uma maneira ou de outra. Consegue ser divertido e relaxante ao mesmo tempo que tocante e estarrecedor. Esse equilíbrio é a sua maior realização e razão pela qual se torna imperdível.
Ano: 2013
Diretor: Stephen Frears
Roteiro: Steve Coogan, Jeff Pope
Elenco Principal: Judi Dench, Steve Coogan, Sophie Kennedy Clark.
Gênero: Drama, comédia
Nacionalidade: Inglaterra, Irlanda, EUA
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