Em 2016, John Asher dirigiu o filme A boy called Po, focado na vida de David Wilson (Christopher Gorham), um jovem engenheiro que perdeu a esposa e passa a cuidar sozinho de Patrick (Julian Feder), seu filho acometido por autismo. Após quase dois anos, o longa chega aos cinemas brasileiros com o título de Po, o apelido que é dado a Patrick.

De maneira tradicional, a narrativa nos apresenta às desventuras de David no papel de pai solo, que precisa lidar com dificuldades crescentes nas esferas pessoal e profissional. Enquanto em casa Po demanda muito de sua atenção, no trabalho ele é cobrado por maiores resultados. Essa tensão crescente o leva a arroubos de impaciência com o filho, o que agrava a condição deste.

Por sua vez, Po também enfrenta o luto pela perda da mãe. Enquanto o pai tenta se adaptar ao novo estilo de vida, o garoto passa a se refugiar cada vez mais em seu mundo interior. De maneira assertiva, o diretor mostra os desafios diários de uma criança autista e justifica comportamentos típicos como a repetição de frases, o pensamento hiperfocado e o hábito de se esconder debaixo de panos. Intensificados pela performance do jovem e competente Julian Feder, esses momentos são os mais inspirados de todo o longa. Ao embarcar nos devaneios de Po, o público cria uma relação empática com ele e compreende melhor sua condição.

O longa também aborda outras situações comuns para famílias que lidam com o autismo, como a inclusão nas escolas. Por terem uma forma de aprendizado fora dos padrões, os pequenos acometidos pela síndrome nem sempre têm uma boa performance nos testes. Entretanto, isso aponta muito mais uma deficiência nos sistemas de ensino, que padroniza o aprendizado em métodos restritos, do que das próprias crianças. Outro fator que complica a a convivência nos colégios é o bullying, prática que vitimiza os indivíduos que fogem dos moldes da sociedade do que seria “normal”.

Ainda que dialogue bem nos quesitos relacionados ao autismo, a produção não consegue superar outras barreiras temáticas. De longe, a que mais incomoda é a romantização desnecessária do pai solo. Como personagem, David é um estereótipo completo: além de bonitão, é pintado como um homem carente que a duras penas enfrenta uma jornada dupla. Essa é um perfil irresistível para que a bela, porém subdensenvolvida, Amy (Kaitlin Doubleday), professora de Po, crie por ele um interesse romântico. Além de pastiche, essa representação em nada condiz com a realidade, onde existem inúmeras mulheres criando filhos sozinhas e enfrentando jornadas triplas para que as contas fechem no final do mês.

Tecnicamente, o título também caminha dentro de um padrão. O único elemento que chama a atenção é leitmotif de Po, inspirado na musica Dancing with your Shadow, de Sheryl Crow. Esta característica, porém, é ofuscada pela falta de unidade do roteiro que apresenta cenas episódicas e de pouca comunicação entre si.

Com isso, a experiência que Po nos proporciona é, sem dúvidas, dúbia. Ao mesmo tempo em que emociona o público ao apresentar o mundo duplo de uma criança autista, a película se afasta da realidade por recair num tentador, porém insatisfatório, final feliz. A necessidade de que tudo termine normativamente bem deixa a desejar não porque queremos ver tristeza na tela, mas porque dá ao longa tons muito previsíveis.

O tratamento dado aos personagens também soa simplista e recai em velhos arquétipos como o do homem branco de classe média que passa por provações, mas no final é recompensado. A abordagem de temas delicados por si só não sustenta um filme. É necessário que todos os elementos narrativos caminhem juntos para criar uma história sólida. Infelizmente não é o que vemos aqui.

Po

 

Ano: 2016
Direção: John Asher
Roteiro: Colin Goldman
Elenco principal: Christopher Gorham, Julian Feder, Kaitlin Doubleday
Gênero: ​Drama, Fantasia
Nacionalidade: EUA

Avaliação Geral: 2,5