Por Joyce Pais
Seguindo uma estrutura narrativa que muito se assemelha ao impecável Uma noite em 67 (Ricardo Calil – 2010), Raul – O início, o fim e o meio concentra seus esforços em reconstruir a trajetória profissional e pessoal de um dos ícones do rock brasileiro, Raul Seixas. E o faz de maneira sincera e respeitosa.
O documentário, que levou 6 anos para ser realizado, foi habilidoso ao fugir da imagem estereotipada e pejorativa a qual comumente o cantor é associado – a de bêbado, drogado e marginal. Se os relatos familiares serviram pra dar luz a uma faceta desconhecida de Raul, a de um pai carinhoso, um companheiro atencioso, um amigo leal, serviram também pra evidenciar o seu lado conquistador. As mulheres que passaram por sua vida, tanto as esposas quanto seus muitos casos, cada uma com seu papel não foram capazes de definir com exatidão quem era Raul, talvez fossem as mudanças constantes, ou sua capacidade de surpreender os que estavam a sua volta que as fizeram se apaixonar por essa figura admirada até os dias de hoje.
Foi na infância que Raulzito, como era chamado até sua juventude, influenciado por Elvis Presley e os filmes que incansávelmente assistia no cinema, demonstrava pequenos sinais que com o tempo o tornaria num símbolo de contestação e rebeldia; com visual e trejeitos do seu ídolo, ter uma banda de rock era algo transgressor, com dito em certo momento do longa “contrariar seus pais e tocar rock eram coisas inaceitáveis na Bahia daquela época”. Raul ousou fazer os dois, depois de começar com os Relâmpagos do Rock e Os Panteras, alçou voos mais altos se mudando para o Rio de Janeiro, onde viveu uma sorte de experiências, a maioria delas dividas e incentivadas por seu grande amigo Paulo Coelho. Pra quem está acostumado com uma imagem mais atual do escritor se surpreenderá ao vê-lo de cabelos compridos, barba e relacionado a drogas, experiências de quarto grau e personagens bizarros.
Alternado por momentos de risos e de comoção, sobretudo quando se trata do seu passado familiar, o longa, ao colocar as falas de suas três filhas, duas delas que residem nos Estados Unidos e a DJ Vivi Seixas, se isenta de qualquer posição tendenciosa que facilmente colocaria seus protagonista como um vilão ou como um coitado. Ainda nessa ideia de entregar ao espectador subsídio pra ele elaborar seus próprios julgamentos, é colocada a polêmica amizade entre Raul e Marcelo Nova. O vocalista do Camisa de Vênus, na época ainda um iniciante no mundo da música e fã declarado do mestre do rock, o convidou para uma série de shows e participações especiais, mesmo sabendo que ele precisava se tratar por conta de seus vícios; ver sua decadência, um homem derrotado por si mesmo até fatalmente chegar à sua morte com certeza é um dos pontos altos do filme.
Dirigido pelo experiente Walter Carvalho, o longa, falha somente na edição e inserção de algumas passagens desnecessárias, que ficam sem resposta, descontextualizadas, e que não se fecham durante a narrativa. Exemplo disso, é a do ator Daniel de Oliveira falando que seu filho se chama Raul e outras como a que o porteiro do último prédio onde Raul morou conta o que aconteceu no dia de sua morte refazendo as cenas passo a passo. Ou ainda quando a empregada volta nesse mesmo prédio onde o encontrou morto 20 anos atrás e se emociona; cenas assim, “ensaiadas”, não naturais, atrapalham a fluidez da narrativa, mas não são capazes de ofuscar as muitas qualidade de Raul – O início, o fim e o meio.
Um dos feitos do documentário é, ao articular-se, propor uma visão fragmentada e, ao mesmo tempo plural, que faça jus a metaformose ambulante chamada Raul Seixas.
Raul Seixas: O início, o fim e o meio.
Ano: 2011
Diretor: Walter Carvalho
Gênero: Documentário.
Nacionalidade: Brasil.
Assista o debate com os produtores do filme:
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Veja o trailer:
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Galeria de Fotos: