Por Luciana Ramos

Em 1993, três crianças de oito anos, Christopher Byers, Michael Moore e Stevie Branch saíram à tarde na cidade de West Memphis para passear de bicicleta e não retornaram. Foram achados sem vida, amarrados e com membros mutilados. Em resposta ao horror, a comunidade viu-se em choque e, em meio a um clima de histeria coletiva que se alastrava rapidamente, buscou pelos responsáveis.

Logo a culpa recaiu sobre três adolescentes: Damien Echols (James Hamrick), de 18 anos, Jason Baldwin (Seth Meriwether), de 16 anos e Jessie Misskelley Jr. (Kristopher Higgins), de 17 anos. Não havia provas concretas para corroborar com a acusação, mas os cidadãos locais satisfizeram-se em justificativas vazias espalhadas por advogados e policiais que envolviam práticas de bruxaria, estupro e satanismo. Três garotos foram então indiciados e julgados pelas suas preferências: por gostarem de heavy metal, eram violentos; por vestirem pretos, eram adoradores do diabo.

Talvez a parte mais impactante da história e, portanto, do filme, seja o fato de o caso ser verídico. Na verdade, tornou-se um marco nos Estados Unidos, tendo suscitado ampla discussão sobre o sistema penal americano a partir do lançamento do  excelente documentário realizado pela HBO, Paradise Lost, em 1996 (que logo se tornaria uma trilogia, com os posteriores lançamentos de Paradise Lost: a Revelações, de 2000 e Paradise Lost: Purgatório, de 2011).

É importante traçar um paralelo entre as obras pois o documentário serviu de base para a reconstituição dos eventos na ficção. De fato, as principais imagens e declarações das pessoas envolvidas foram recriadas com primazia e precisão pelo diretor Atom Egoyan (Chloe – O Preço da Traição), dentre elas entrevistas dos pais dos falecidos, a reação de Pam Hobbs ao saber que seu filho estava morto, declarações da polícia local, mobilização social. Além da riqueza de detalhes, tal foco dramático consegue potencializar a lacuna entre a versão proferida pelos advogados de acusação e a verdade apurada.

Entretanto, tamanha eficiência mostrou-se uma armadilha e o longa, ainda que possua esmero técnico, carece de dramaticidade. Dividida entre dois grandes polos opostos, a história intercala a vida de Pam Hobbs (Reese Witherspoon) depois da morte do filho e do investigador Ron Lax (Colin Firth), que decide pôr sua renomada reputação em risco trabalhando em favor dos réus por duvidar da culpabilidade dos mesmos.

Ainda que ensaiem uma convergência durante toda a trama, os dois pouco interagem de fato e, quando o fazem, deixam a desejar em termos de dramaticidade. Ainda mais grave é a pouca exploração de personagens que influenciam diretamente no resultado do julgamento e o mau uso do sentimentalismo da narração em off de Stevie Branch (Jet Jurgensmeyer) após a sua morte.

Assim, o filme torna-se interessante por reconstituir todo o caminhar das investigações (e mostrar o ódio exaltado da comunidade) mas toda essa preocupação técnica acaba traindo o seu proposito maior de impactar o espectador. Cabe afirmar que em nenhum momento ele adquire tom panfletário e exime os acusados completamente; o diretor, de maneira inteligente, foca-se nos erros grotescos e faltas de provas dos advogados de acusação. Em suma, um filme que, ainda que peque pela sua precisão, é rico pela discussão que suscita. Vale a pena vê-lo e ler mais sobre o caso.

Cinemascope - Sem evidências posterSem Evidências (Devil’s Knot)

Ano: 2013

Diretor: Atom Egoyan

Roteiro: Paul Harris Boardman, Scott Derrickson

Elenco Principal: Colin Firth, Reese Witherspoon, Stephen Moyer, Dane DeHaan

Gênero: biografia, crime, drama

Nacionalidade: EUA

 

 

 

 

 

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