Shame

Por Joyce Pais

Shame, que em português significa vergonha, traz no seu título o primeiro indício de que a abordagem do novo longa de Steve McQueen possui uma ligação visceral com o problema que se propõe não só a retratar, mas também a explorar a fundo mesmo que, em dados momentos, o faça de maneira implícita ou simbólica.

Vencedor do prêmio de Melhor Ator no Festival de Veneza do ano passado, Michael Fassbender repete a parceria com o diretor e artista plástico; o ator quer ganhou notoriedade com o longa Fome (Hunger) há quatro anos interpretando Booby Sands, dessa vez dá vida a Brandon Sullivan, um executivo bem sucedido viciado em sexo.

Escrito pelo diretor e por Abi Morgan (A Dama de Ferro), a trama se constrói acerca da vida de Brandon e sua tentativa de lidar com sua compulsividade. A decoração do apartamento onde vive sozinho, suas roupas de cores frias, a repetitiva secretária eletrônica, a visão monocromática de sua vida adquire outras cores com a inesperada chegada de sua irmã caçula, Sissy (Carey Mulligan; Drive).

A personalidade instável e invasiva de Sissy, que assim como o irmão demonstra bloqueios emocionais e afetivos, transforma drasticamente a rotina de Brandon, que incapaz de conter sua obsessão pelo orgasmo, – este sempre perseguido independente de ser alcançado com alguém ou sozinho se masturbando – e impõe um enfrentamento de sua patologia de uman forma dolorosa.

A escolha da cidade de Nova York foi fundamental. Os hábitos, bares, as cenas noturnas denunciam de forma latente a efemeridade que ronda o ar das grandes metrópoles e uma diversidade de possibilidade que fatalmente convergem parta a solidão; é assim a vida de Brandon. Quando tenta se relacionar com sua colega de trabalho, por quem mantém um interesse real, falha.

Destaque para a melancólica releitura do ícone New York, New York de Frank Sinatra feita por Sissy. A cena é um dos exemplos dos longos planos utilizados por McQueen e que funcionam congruentemente a sensação cíclica e desesperadora que expõe na tela a fragilidade dos personagens principais.

Talvez uma das escolhas mais inteligentes em Shame tenha sido fugir de qualquer desfecho moralista. Ocultar o passado de Brandon e Sissy e não apostar em justificativas simplistas que tirariam o mérito alcançado por McQueen – falar de um assunto delicado e de forma brilhante.

Shame