Por Paulo Pereira

A fronteira entre os Estados Unidos e o México foi utilizada como pano de fundo em diversas produções cinematográficas. De A Marca da Maldade (1958) a Onde os fracos não têm vez (2007), esse espaço é retratado como um campo violento, inexorável e conflitante, onde as leis não são aplicadas. É nesse local que ocorre os percalços envolvendo Kate Mercer (Emily Blunt), uma agente do FBI que, após descobrir diversos cadáveres em uma casa, agrupa-se a outras autoridades envolvidas no combate do tráfico internacional de entorpecentes, cujo escopo é capturar dois dos maiores nomes dos cartéis de drogas mexicanos: Manuel Díaz e Fausto Alarcon.

Na primeira parte de Sicario (2015), somos guiados pelo olhar perdido de Mercer em meio a homens que não revelam nada de suas intenções. Percebemos, então, que ela está sendo utilizada por esses agentes. A seguir, o filme desloca-se para elucidar os objetivos desse grupo e o verdadeiro propósito de Alejandro (Benicio Del Toro). A famosa máxima atribuída erroneamente ao pensador italiano Nicolau Maquiavel, “Os fins justificam os meios”, parece guiar as atitudes dos personagens do filme.

Há um embate entre diversas ideologias. Enquanto Kate possui um posicionamento moral frente ao seu ofício, Matt Graver (Josh Brolin) não se preocupa a quem se aliar, desde que exista “ordem no caos”. Nesse aspecto, Mercer pode ser comparada a uma conhecida figura do cinema: o chefe de polícia Ramon Miguel Vargas (Charlton Heston), protagonista do filme de Orson Wells já citado, que preza pela ética policial. A produção não expõe nenhum elemento julgador e não reproduz os estereótipos e os truísmos clássicos. Os mexicanos não são os “vilões”, tampouco os estadunidenses são os “bonzinhos”. Quem acaba avaliando as ações das personagens é o próprio espectador.

Apesar disso, o longa-metragem reapresenta as imagens tradicionais da região fronteiriça. Não obstante, esse local é externado como uma metáfora das atitudes éticas dos indivíduos e um espaço que não está plasmado em uma dimensão material, denotando outros significados. Partindo para o campo técnico, a obra conta com uma pulquérrima fotografia e um ritmo impressionante, através de cenas de ação bem elaboradas. A ambiguidade de Alejandro e Matt é um elemento essencial para o roteiro, apesar da narrativa não trazer nenhuma novidade consistente no debate envolvendo essa realidade tão dolorida para os que residem “abaixo do Rio Bravo”.

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Sicario: Terra de Ninguém (Sicario)

Ano: 2015.

Direção: Denis Villeneuve.

Roteiro: Taylor Sheridan.

Elenco Principal: Emily Blunt, Josh Brolin, Benicio Del Toro, Daniel Kaluuya.

Gênero: Ação, Drama.

Nacionalidade: EUA.

 

 

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