Um dos grandes desafios de um crítico de cinema é separar o gosto pessoal de uma análise, digamos, mais profissional. Isso principalmente por que antes de ser um crítico, nós fomos e ainda somos, cinéfilos. E, certos filmes e sagas habitam no canto especial em nossos corações. Boa parte de nós, tem um cantinho reservado para a saga de Star Wars e diversos argumentos sobre qual das duas trilogias, a clássica ou os prequels, é a que gostamos mais. E, certamente, já enfrentamos dificuldade de explicar aos leigos sobre a ordem de cada uma delas. Depois de tanta discussão e espera, temos novas produções da franquia que foi reinaugurada com o Episódio VII: O Despertar da Força (2015). Agora chegamos (finalmente), depois de dois anos de espera, ao Episódio VIII: Os últimos Jedi (2017) que é uma continuação direta do último capítulo. Visto isso vamos aqui conversar um pouco sobre ele, tentando (ao menos tentando) ser o mais profissional possível.
Nesse novo capítulo, a trama se desenvolve basicamente em dois lugares. O primeiro, é exatamente onde o VII terminou, com Rey (Daisy Ridley) encontrando Luke Skywalker (Mark Hamill) num antigo templo Jedi. Lá, ela precisa convencê-lo a treiná-la como uma Jedi para que ela possa enfrentar Kylo Ren (Adam Driver) e seu novo mestre o Lider Supremo Snoke (Andy Serkis). No segundo, vemos Leia (Carrie Fisher), Poe Dameron (Oscar Isaac) e sua resistência, num embate contra a primeira ordem comandada pelo General Hux (Domhnall Gleeson). No decorrer do filme, os acontecimentos dos dois espaços vão se encontrando e dando corpo ao filme.
Os Últimos Jedi se arrisca em tentar ser algo novo. Diferente do Episódio VII que bebeu muito de uma espécie de “fórmula” do Episódio IV e que muitos consideram ser uma espécie de remake do clássico. Além disso, os momentos mais emocionantes e tensos vinham do uso de referências. O VIII as referências surgem mais como forma de mostrar um universo coeso com os filmes anteriores. Achei bem ousada essas decisões para tornar o filme “diferente” pois, fã de Star Wars é um dos mais chatos da galáxia. Inclusive, teve até uma petição para tirar esse filme do cânone da saga.
Uma coisa que me incomodou um pouco (tá vendo, vou ser chato) foi um certo exagero na comicidade do filme. A começar pela cena em que Rey entrega o sabre para Luke e ele o trata com desdém (“Olha o respeito, rapaz”, pensei eu no cinema). Sim, eu sei que o universo do filme tem muito desse tom cômico, que é um dos pontos interessantes da saga. Mas geralmente isso vinha dos personagens coadjuvantes como Chewbacca ou os androides. Falando em cômico, uma das partes mais engraçadas, foi a aparição das criaturas, que lembram freiras, responsáveis por cuidar do templo Jedi que Luke está exilado. Esse achei um bom acerto para o filme que, como dito, vem de um coadjuvante.
Kylo Ren continua sendo o personagem que mais me chama a atenção. Apesar de na trama seu conflito ser não conseguir se tornar tão grande quanto seu avô, Darth Vadder, ele conquista a nós, público, por ser um personagem que “amamos odiar”. Bem próximo do que Vadder é. Mesmo sendo um vilão que devíamos detestar ele exerce uma admiração muito grande em nós devido à complexidade de seu personagem. Aqui, a trama de Kylo tem mais umas complicações que nos deixam mais interessados em que rumo sua história tomará no episódio seguinte.
A Rey, além de continuar a ser o motor do lado bom da força, também ajuda a mostrar o quão próximos estão os dois lados da força. Aliás, é uma das coisas que acho mais interessantes na saga. Essa ideia da força e o quanto o lado negro é tão convidativo e presente em todos. Conflito que fica mais interessante nos encontros e desencontros dela com Kylo. Como numa cena de luta dos dois numa sala vermelha. Foi uma das mais bonitas, tanto esteticamente quanto simbólica desses conflitos entre forças. É interessante ver aqui, nas performances que a luta de Kylo é mais “acadêmica”. Ele teve um treinamento mais formal com mestres e tudo. Enquanto Rey aprendeu meio que “na marra” quando tentava sobreviver no planeta em que vivia.
O que mostra ser mais fraco, foi o arco do Finn (John Boyega). Me pareceu que os roteiristas ficaram indecisos quanto ao o que fazer com ele e sua antagonista a Capitão Phasma (Gwendoline Christie). Essa última tem um visual tão interessante que acho um desperdício não ter um espaço decente para ela no filme.
Em compensação Luke demonstra que, além de Jedi, ele também é humano, tem dúvidas e erra. Coisas que só quando temos mais experiência conseguimos perceber. Aliás, isso é mostrado nos conflito dentro da própria resistência encabeçada por Poe Dameron e seu atrito com Vice Admiral Holdo (Laura Dern). É algo do tipo, “não fique tão afobado, jovem padawan”.
Apesar dessas “birrinhas” de nós fãs, Os últimos Jedi é um episódio coeso. Tanto com relação ao anterior quanto ao universo da saga. O medo que tínhamos inicialmente com esses novos capítulos da saga, aos poucos vai se dissolvendo. Mostra que a equipe envolvida tem trabalhado para não deixar o universo morrer e ter tantas críticas quanto a última trilogia teve. Ter reclamações sempre vai ter, claro. Mas, nada perfeito é, jovem padawan. Agora é esperar mais dois anos para mais. Que a força esteja conosco pra segurar a ansiedade.