Por Domitila Gonzalez

Não.
Steve Jobs não é mais um filme sobre o cara da Apple.

E isso realmente é algo para se elogiar. Diante de todas as escolhas que a equipe poderia ter feito, não direcionar o roteiro para as conquistas da empresa, ao longo dos anos, certamente, foi a melhor delas.

Aliás, focar nos fracassos e não nos acertos foi definitivamente o que trouxe duas indicações ao Oscar para o filme com direção de Danny Boyle: Michael Fassbender como Melhor Ator, e Kate Winslet como Melhor Atriz Coadjuvante.

Escolhas que podem ser notadas desde o começo do longa-metragem, quando estamos diante de um grande problema: o computador que será lançado dentro de minutos precisa falar e não está conseguindo.

Diante de uma premissa simples, num recorte bem específico – era 1984 e o protagonista já existia como figura pública –, nos deparamos com um Steve Jobs (Michael Fassbender) obstinado. Milhares de pessoas estão esperando que o espetáculo comece: o lançamento de um produto que promete revolucionar a relação das pessoas com um computador e também o mercado de tecnologia.

Escoltado durante toda a trama pela gerente de Marketing da Mac Joanna Hoffman (Winslet), Jobs fracassa diversas vezes. Como homem, como pai, como executivo, como amigo, como chefe.

No recorte escolhido pelo roteirista Aaron Sorkin (A Rede Social; 2010), são mostrados 14 anos da vida do executivo. Neles estão a criação do primeiro computador que não obteve sucesso de vendas, até o cubo (oco) mágico Next, a compra do sistema operacional pela Apple e a volta de Jobs para a empresa, sem falar em sua recusa em admitir a paternidade de Lisa, durante todo esse tempo.

Steve Jobs é um filmaço. Fassbender não está nem de longe tão parecido com Jobs quanto estavam Ashton Kutcher e seu nariz fino, em 2013. A equipe de caracterização poderia ter caprichado mais, mas a falta de capricho foi compensada pela maestria de Fassbender, que criou uma personagem tridimensional e cheia de camadas.

E o que podia ser melhor do que ter uma Kate Winslet como companheira de cena? Uma direção de arte afiada (Peter Borck – Pulp Fiction, 1994) e um fotógrafo incrível (Alwin H. Küchler). Sabia que foram usados três tipos de câmera para captação de imagens, cada uma de acordo com uma fase de Steve Jobs? Para o lançamento do Macintosh, em 1984, foi utilizada uma 16mm. Para a sequência do lançamento do Next, uma 35mm. Para o iMac, a última fase, o formato digital.

Com essas escolhas acertadas de elenco, trilha sonora, direção de arte, fotografia e roteiro com seus diálogos dinâmicos e afiados, conseguimos apreciar uma cinebiografia feita, felizmente, de maneira diferente.

Steve Jobs pode até não levar as estatuetas, mas com certeza conquistou um lugar de respeito entre os críticos e os espectadores.

 

Steve Jobs posterSteve Jobs

Ano: 2015

Direção: Danny Boyle

Roteiro: Aaron Sorkin, baseado no livro de Walter Isaacson

Elenco Principal: Michael Fassbender, Kate Winslet, Seth Rogen.

Gênero: Biografia, Drama.

Nacionalidade: EUA

 

 

 

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