The Post – A Guerra Secreta, de 2017 é o mais recente filme escrito por Josh Singer e Dirigido por Steven Spielberg. Em um mundo onde todas as instituições consolidadas ameaçam se liquefazer, o filme retorna ao ano de 1971, em um movimento quase alegórico do nosso tempo para nos mostrar como alguns erros se repetem, em ciclos viciosos, e, como um país que uma vez elegeu o presidente Richard Nyxon (1969-1974), hoje, conta com Donald Trump como seu maior representante.
Com um elenco exemplar e de grande relevância para a premiação do Oscar 2018 – o filme foi indicado à duas categoriais Melhor Filme e Melhor Atriz – temos Meryl Streep, Tom Hanks, Bruce Greenwood e Sarah Paulson como linhas de força, compondo uma equipe que atrai os espectadores para as salas de cinema, até os menos interessados pelo enredo.
O filme tem como background sócio-político a Guerra do Vietnã (1955-1975) e o problemático papel do Governo Americano no conflito internacional. Ainda, é possível perceber, mesmo que minuciosamente no filme, uma contextualização histórica dos movimentos contraculturais: o movimento hippie, a revolução sexual bem como a luta pelos direitos civis. Nessa dinâmica somos apresentados ao The Washington Post, um jornal local que está tentando se projetar no mundo jornalístico com mais expressividade, lançando suas ações na Bolsa de Valores para se capitalizar e concorrer com outros veículos de comunicação impressa, como o New York Times.
Nessa trama Kat Graham (Meryl Streep) é a recém dona do jornal, legado de seu pai para a família, bem como uma mulher viúva que convive no meio de homens poderosos, banqueiros, representantes do Estado e jornalistas. Ao lado dela encontra-se Ben Bradlee (Tom Hanks), editor chefe do The Washington Post, um homem prepotente e fissurado em fazer com que o jornal concorra com outros grandes monopólios de mídia. Ainda, para finalizar a tríade conflituosa que se estabelece ao longo do filme, temos Robert McNamara (Bruce GreenWood) o secretário de defesa do Estado Americano, portador do amplo conhecimento da guerra do Vietnã e amigo de Kat Graham.
Quando o New York Times adquire os documentos confidenciais da Guerra e inicia uma série de matérias bombásticas expondo os inúmeros Governos Americanos que mentiram acerca do conflito, Richard Nyxon proíbe o jornal de publicar os documentos sigilosos por meio da Lei de Espionagem. Nessa disputa, o The Washington Post se vê em um imenso conflito ideológico, uma vez que os documentos oficiais também são entregues a sua equipe jornalística com a única condição de publicá-los para expor o Governo Americano.
O trabalho fotográfico é primordial, os grandiosos planos sequências, panorâmicos, plongées e a câmera em constante movimento dão dinamicidade aos diálogos e promovem uma tensão no espectador. Ainda, algumas cenas são emblemáticas em demonstrar a discrepância de uma mulher no mundo dos negócios dominado por homens. Uma das cenas mais brilhantes é a caminhada de Streep até uma reunião; um limiar que demonstra a nítida oposição binária de gênero no mundo corporativo, isto é, no percurso que guia a atriz temos do lado de fora da sala, mulheres e no lado de dentro, os homens.
Por um lado, o filme de Spielberg é pontual, ou seja, nos mostra a importância da liberdade de imprensa, a soberania de um Estado que tem o poder de suprimir todo tipo de informação, bem como a complexidade do mundo jornalístico em consonância com os interesses financeiros de uma empresa. De um outro modo, o filme beira ao sensacionalismo, com alguns discursos enfáticos e caricatos, como em cenas que Tom Hanks demonstra que a mídia deve promover a verdade a qualquer custo ou em planos que Maryl Streep exala um ar de lamentação, pois apenas quer o melhor para a sua família e a empresa. Ainda, a ingenuidade que o filme retrata a relação da Casa Branca com o The Washington Post é risível, isto é, como em anos de relação com os inúmeros Governos Americanos a família Graham nunca obteve nenhum dado sobre a Guerra do Vietnã, ainda mais, quando falamos de uma empresa jornalística.
Ao colocarmos na balança, The Post – A Guerra Secreta é um filme mediano, porém com um elenco formidável, demonstrando que Meryl Streep pode e consegue interpretar qualquer tipo de papel. No entanto, na indicação ao Oscar 2018 é difícil o embate entre o filme contra os gigantes: A Forma da Água de Guillermo Del Toro, Corra! de Jordan Peele, Me Chame Pelo Seu Nome de Luca Guadagnino e Lady Birdy – A Hora de Voar de Greta Gerwig.