Ele foi chegando “de fininho” com algumas participações em filmes e séries, até que apareceu processando seu ex-melhor amigo em A Rede Social (2010), pouco tempo depois ganhou o mainstream de vez ao se tornar um herói dos quadrinhos em O Espetacular Homem Aranha (2012) e foi dirigido por Martin Scorsese em Silêncio (2016). Desde então, Andrew Garfield se tornou uma das caras mais conhecidas da geração atual de atores, fez inclusive uma rápida participação na série adulta de animação Bojack Horseman (2014 – 2020) como ele próprio. Ah, recentemente retornou como Peter Parker / Homem Aranha em Homem Aranha: Sem Volta para Casa (2021) e teve seu valor no papel reavaliado pelo público que a princípio, não tinha gostado da sua versão. A nova missão do carismático rapaz é o musical moderninho e biográfico tick, tick… BOOM! (2021).

A produção, lançada diretamente na Netflix, adapta a peça de teatro autobiográfica escrita pelo compositor e escritor Jonathan Larson, interpretado por Garfield. Aqui, Larson se vê às voltas de uma crise existencial e de carreira. Ele passou anos escrevendo uma peça de teatro e procura uma chance de fazê-la ganhar espaço nos palcos. Enquanto isso ele mora num apartamento minúsculo e paga as contas trabalhando numa lanchonete. Ao aproximar dos 30 anos de idade, ele se questiona se deve seguir com o que ele tanto almejou, em fazer arte para uma plateia, ou se vai para áreas mais comerciais como a publicidade, como fez seu amigo Michael (Robin de Jesus), que hoje tem uma vida invejável.

Tick, tick… BOOM! fala então do dilema tradicional entre viver de arte ou ter uma vida confortável. Grande desafio principalmente para quem não nasceu em uma família influente ou com grandes recursos (se você for brasileiro, as coisas pioram um pouco mais). Conforme a idade vai avançando essas questões ficam mais intensas. Questões sobre a própria eficiência do trabalho, “seria eu um artista medíocre? ” são os pensamentos que giram na mente de Jonathan Larson. Junto disso, o mundo ainda está sob a sombra da epidemia de AIDS e ele vê vários de seus amigos doentes e morrendo por conta do vírus. Um cenário não muito otimista e promissor para se trabalhar, principalmente para quem quer criar musicais.

Pelos vídeos que são exibidos do verdadeiro Jonathan Larson, ele era uma figura alegre e muito carismática, com isso Garfield parece ser uma boa escolha para o papel. Parece não, é. Ele consegue exalar exatamente essas características que Larson tinha e muito do que habita o imaginário (pelo menos o meu) de como seria uma pessoa que cria musicais. Sem um ator ideal para o papel, a produção talvez não caminhasse muito bem. O filme é contado em “primeira pessoa” com Larson se apresentando num teatro e quando ele fala de algum acontecimento, temos um corte que nos leva para fora dos palcos, para os acontecimentos junto de outros personagens. Ele narra a história, se apresenta e faz parte da história. É quase como se estivesse em três papéis diferentes.

Tick, tick… BOOM! tem um tom sarcástico pontuado principalmente pelas canções. Em um determinado momento, Larson tem uma discussão séria com a sua namorada Susan (Alexandra Sipp). Uma daquelas DR que decidem se um relacionamento vai continuar ou não. Enquanto assistimos a uma séria discussão num outro tempo, no palco a versão personagem em cima do palco de Larson contracena com Karessa (Vanessa Hudgenss) cantando uma canção “alegre” e que alfineta diversos momentos do namoro do protagonista. Coisa bem moderninha mesmo. Quase tão moderna quanto o palco do musical que basicamente não tem cenário e somente os atores/músicos interagindo entre si.

Ao final, Tick, tick… BOOM!, além das questões existenciais e de escolha de vida, é quase um atestado de carisma de Andrew Garfield. Ele consegue unir seu trabalho de ator e todas as suas aparições públicas que vemos por aí dele fora das telas. Aliás, muito explorado durante os lançamentos dos filmes do universo do Homem-Aranha. Aqui todo esse percurso se mostra válido e usado de forma correta para retratar uma personalidade real que tinha exatamente essa mesma energia.

tick, tick…BOOM!

 

Ano: 2021
Direção: Lin-Manuel Miranda
Roteiro: Steven Levenson, baseado no musical de Jonathan Larson
Elenco principal: Andrew Garfield, Alexandra Shipp, Robin de Jesus, Vanessa Hudgens, Joshua Henry
Gênero: ​Biografia, Drama, Musical
Nacionalidade: Estados Unidos

Avaliação Geral: 3,5