Por Felipe Teixeira
O chocante assassinato do jornalista Tim Lopes, em junho de 2002 no Complexo do Alemão, ficou marcado pela difícil investigação acerca dos autores do crime e o motivo do homicídio. Foram meses de uma apuração necessária, porém desgastante, que se desviava dos grandes feitos de vida do repórter para se focar em sua morte prematura. Felizmente, o documentário Tim Lopes – Histórias de Arcanjo, dirigido por Guilherme Azevedo, que também assina o roteiro ao lado do filho de Tim, Bruno Quintella, apresenta as inúmeras qualidades pouco conhecidas de Tim Lopes, um dos maiores jornalistas investigativos da imprensa brasileira.
O maior acerto da interessante produção é se desvencilhar da brutalidade e violência das últimas horas de vida de Tim Lopes para se dedicar aos seus inesquecíveis trabalhos como repórter investigativo. Uma das primeiras cenas do longa-metragem com o jornalista cobrindo um bloco de carnaval carioca no meio dos foliões de cara já expõe ao espectador o que está por vir: grandes histórias que ganharam vida graças ao trabalho de um homem. Dessa forma, após uma rápida reconstrução sobre a investigação de sua morte, de fato o jornalista Arcanjo Antonio Lopes do Nascimento começa a ser apresentado ao público.
Por meio de animações bem produzidas mostrando manchetes e textos de autoria de Tim Lopes nos jornais impressos, o documentário passeia pela vida profissional do homem contando surpreendentes histórias. Surpreendentes mesmo. Como jornalista investigativo, Tim Lopes se infiltrava em diversos grupos durante a carreira para realizar as reportagens mais completas e verdadeiras possíveis, vivendo entre drogados, mendigos e até participando de arrastões para fornecer a melhor cobertura sobre determinado assunto. Imagens de arquivo incríveis com o jornalista em ação são fundamentais para o espectador acreditar em tantos contos improváveis, e os depoimentos de amigos, companheiros de trabalho e personagens de matérias realizadas por Tim ressaltam sua personalidade bem humorada e seu modo de trabalho irreverente.
A montagem do documentário também é eficiente em transitar entre as variadas reportagens sem deixar o espectador perdido. O número de histórias apresentadas poderia até tornar o filme cansativo ou arrastado, mas os feitos de Tim as tornam tão interessantes que é difícil não se prender a elas. Além disso, a direção de Guilherme Azevedo ainda é eficaz ao retratar, sem gerar uma comoção forçada, os sentimentos de Bruno quando este visita o local da morte do pai pela primeira vez. O filho do repórter, por sinal, também funciona como um ótimo condutor da história, entrevistando os antigos companheiros de seu pai e descobrindo novidades sobre ele junto com o espectador.
O fim do documentário é dedicado às origens de Tim Lopes e vai até a terra natal do repórter, no Rio Grande do Sul, onde grande parte de sua família se encontra até hoje. Apesar de se esticar um pouco além do necessário, a parte final do longa conta com vários emocionantes depoimentos de familiares e algumas imagens da infância de Arcanjo Antonio Lopes do Nascimento, que desde pequeno tinha o sonho de ser um grande jornalista. Doze anos após sua morte, é indubitável que seu objetivo foi alcançado.
Tim Lopes – História de arcanjo
Ano: 2013
Diretor: Guilherme Azevedo
Roteiro: Bruno Quintella
Gênero: Documentário
Nacionalidade: Brasil
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