Por Luciana Ramos
Como outros filmes do gênero, Transcendence – A Revolução, utiliza a premissa do avanço da tecnologia como estopim para o caos social e debate os limites éticos sobre seu uso, porém, falha terrivelmente na sua argumentação.
Em uma sociedade um pouco mais avançada tecnologicamente que a nossa, o Dr. Will Caster (Johnny Depp) é uma celebridade. Expoente da pesquisa sobre inteligência artificial, ele alega ter desenvolvido um sistema tão eficiente que combina toda a complexidade das emoções humanas com a superioridade cerebral. Seu uso primordial, segundo ele, será para curar doenças e pobreza. Porém, um grupo extremista antitecnologia o ataca e Will se vê frente a morte.
Sua esposa e parceira de pesquisa, Evelyn Caster (Rebecca Hall), decide fazer um upload da mente de Will na máquina do seu experimento, para que ele possa continuar a habitar o mundo numa nova forma, a que eles chamam de “transcendência”. Porém, assim que isso é feito e o cientista retorna à vida enquanto máquina, começa a tornar-se um perigo, expandindo por todos os cantos onde há tecnologia. Realiza ainda atos questionáveis, como desviar 38 milhões de dólares para a construção do seu centro experimental de nanotecnologia.
Passam-se cinco anos e a progressão desse sistema oferece um perigo agora em escala global. Em oposição a ele, organizam-se o antigo mentor de Will, Joseph Tagger (Morgan Freeman), seu ex-parceiro de pesquisa, Max Waters (Paul Bettany), o FBI (que sabia desde o início da ameaça, inclusive rastreando o dinheiro desviado mas nada fez) e o chatíssimo e caricato grupo antiterrorista RIFT, liderado pela ainda mais chata e caricata Bree (Kate Mara).
A boa premissa do filme perde-se em meio a discursos vazios e infantis, sem o menor aprofundamento. A progressão da evolução da máquina não convence, já que o roteiro falha em dar a base necessária para a aceitação desse universo de ficção cientifica.
Os personagens são todos mal desenvolvidos, os diálogos tem claramente a pretensão de soar grandiosos (e falham miseravelmente) e os personagens coadjuvantes são pouco explorados na trama. O grupo antiterrorista RIFT, por exemplo, possui uma argumentação fraquíssima para a sua motivação. O FBI, da mesma maneira, poucas vezes apareceu tão ineficiente no cinema.
Já a própria personagem da mulher de Will, Evelyn, que é delineada como uma cientista brilhante ao começo da trama, permanece maior parte do desenrolar da história sendo guiada pela “mente” do seu marido e parece ter perdido a habilidade de análise. A atuação insossa de Rebecca Hall ajuda a torná-la uma personagem extremamente fraca.
Na verdade, o único interessante é o pesquisador Max Waters, cujo pensamento é complexo o bastante para analisar os dois lados da moeda. Ademais, vem dele e não do grupo extremista as principais argumentações sobre os limites éticos do uso da tecnologia.
Transcendence – A Revolução marca o debut de Wally Pfister na direção. Ele, colaborador usual de Christopher Nolan na direção de fotografia, perde-se em meio a uma história que mais aborrece do que intriga. A pretensão de grandeza de um roteiro cheio de falhas não consegue superar alguns bons planos visuais. Algumas passagens, como o desfecho do personagem de Will são absurdas, beirando o ridículo. De fato, não dá entender o apelo que atores de primeira linha viram neste roteiro. Só resta esperar que o próximo projeto de Johnny Depp, que não tem se saído muito bem nas bilheterias, seja uma escolha melhor que esta.
Transcendence – A Revolução (Transcendence)
Ano: 2014
Diretor: Wally Pfister
Roteiro: Jack Paglen
Elenco Principal: Johnny Depp, Rebecca Hall, Paul Bettany, Morgan Freeman, Cillian Murphy, Kate Mara
Gênero: Ficção científica, drama, mistério
Nacionalidade: EUA
Confira o trailer:
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