Phoenix

Por Ana Carolina Diederichsen

Após sair de um campo de concentração nazista, Nelly Lenz (Nina Hoss) é resgatada por sua amiga Lena (Nina Kunzendorf), que a leva de volta para casa. Seriamente ferida na cabeça, tem que passar por uma cirurgia reconstrutora.

O médico dá a ela a opção de retirar os “traços judeus” de seu rosto para evitar complicações futuras, mas a jovem está decidida a se manter exatamente como era. Os danos são tamanhos, que apesar da insistência da sobrevivente, os médicos não conseguem deixá-la como antes.

Aos poucos, Nelly tem que se adaptar ao novo rosto, enquanto tenta descobrir quem a entregou para os nazistas e qual caminho seguir após o final da guerra. Com toda a sua família morta, ela, única herdeira, é agora rica e pode ajudar na construção de um novo Estado Judeu, Israel. Mas suas atenções se voltam para a busca por seu marido, que pode ter sido o delator de seu esconderijo.

Ao encontrá-lo, ele não a reconhece, mas nota semelhanças com sua (até então) falecida esposa e decide fazer com que a moça se passe por ela e resgate sua herança. Num misto de curiosidade e fixação doentia, ela se deixa levar e encarna o plano.

Tem início então uma trama de suspense que vai ganhando densidade à medida que caminha ao final do filme, momento em que atinge seu ponto máximo de tensão. Embora siga a cadência tradicional, quebra um paradigma ao segurar o clímax até o último momento, numa construção ousada e bem executada. Com ares de filme noir, nos remete ao tempo de guerra, não só pela época, mas pela construção estética histórica do cinema no período.

A partir de uma perspectiva pouco usual, Phoenix versa sobre o aparentemente inesgotável tema da Segunda Guerra Mundial e das cicatrizes que ela deixa. Cicatrizes essas, que cirurgias plásticas não podem apagar. Assim como a ave mitológica, Nelly renasce a partir das próprias cinzas que resultaram da guerra e tem que se reconstruir.

Phoenix