Por Thaís Lourenço
Tudo e todas as coisas é um filme dirigido por Stella Meghie, baseado no livro best-seller homônimo da escritora Nicola Yoon e estreia dia 15 de junho no Brasil. O longa conta a história de Maddy, uma garota de 18 anos que convive com uma doença rara chamada IDCG (Imunodeficiência Combinada Grave) que a faz ter uma espécie de “alergia ao mundo”, e, por esse motivo, é obrigada a viver em uma casa hermeticamente fechada.
Dentro da sua casa, com muitas paredes e janelas de vidro, está tudo o que já conheceu. O contato humano só existe com a sua mãe, que é médica, com sua enfermeira e sua filha Rosa, ambas amigas de Maddy. Sonha em ver o mar e nos leva com ela e sua imaginação fértil para lugares onde desejaria estar, vamos então, acompanhando Maddy nas suas viagens mentais, e descobrimos que toda a alegria dela é sustentada por sua imaginação.
Esses 18 anos de resignação sofrem uma guinada quando Maddy conhece seu novo vizinho, Olly, e se apaixona por ele. O casal depende quase que exclusivamente da tecnologia para se comunicar, pois ele não é autorizado a entrar na casa da jovem, muito como nossos relacionamentos pessoais atuais, cada um vivendo em seu ambiente estéril e hermético, fazendo amigos online e dialogando através de textings. A tecnologia cria nossas próprias paredes de vidro.
A questão central proposta pela narrativa é: “Você colocaria sua vida em risco por um grande amor?”, pode ser que seja maior que isso, Maddy mais do que colocar a vida em risco por amor à Olly, coloca em risco por amor a si mesma, e pelo desejo e curiosidade de obter respostas.
O filme possui algumas escolhas um tanto questionáveis, mesmo que se pretenda fiel ao livro. Há uma grande sexualização da personagem, que no auge de suas descobertas individuais e sexuais aparece diversas vezes objetificada, seu corpo é muito explorado, desnecessariamente, pelo enredo do filme.
Há também uma mensagem por trás das roupas que usam, Maddy sempre com roupas claras, na transição do branco (camisetas esterilizadas todos os dias) para cores cada vez mais fortes, o que demonstra sua emancipação, e Olly sempre de preto, como reflexo de sua melancolia e revolta. Há, na minha opinião, uma separação clara entre a inocência e ingenuidade de Maddy e a atitude e independência de Olly, possível identificar inclusive nas escolhas de livros preferidos dos dois, o de Maddy é “O Pequeno Príncipe” e o de Olly “O Senhor das Moscas”, uma clara dicotomia: o primeiro tem como tema central a descoberta do amor por um Príncipe que vive sozinho em seu próprio planeta, e o outro, uma complexa alegoria sobre viver em sociedade e sobre a natureza do mal.
A impressão que temos de Maddy a partir daí é a de que ela não conhece nada do mundo e se apaixona tão rapidamente por Olly simplesmente por ele pertencer ao mundo que ela nunca teve a chance de conhecer. Aqui cito a teoria do Born Sexy Yesterday, que normalmente é usada para analisar filmes de ficção científica: Maddy tem um passado vazio, é extremamente bonita, nunca saiu de casa, não conheceu outros homens e a chegada de Olly, que conhece tudo sobre viver a vida, desperta esse sentimento em Maddy, não por ele ser especial – para qualquer outra garota ele seria só mais um garoto problemático – mas como ela nunca conheceu outro homem, Olly parece ser o mais maravilhoso de todos, o mais charmoso e mais esperto.
O filme, se veio para agradar uma faixa etária específica que está na fase de descobrir o primeiro amor, pode ser compreensível, mas não isento de questionamentos. Falta complexidade no relacionamento, profundidade na construção dos personagens devido ao uso de clichês desgastados de produções destinadas ao público adolescente. Se romantizarmos esse tipo de relacionamento na adolescência, chegaremos à vida adulta com severos problemas para sustentar relacionamentos reais e humanos.
Tudo e todas as coisas (Everything, everything)
Ano: 2017
Direção: Stella Meghie
Roteiro: J. Mills Goodloe, Nicola Yoon
Elenco principal: Amandla Stenberg, Nick Robinson, Anika Noni Rose
Gênero: Drama, Romance
Nacionalidade: EUA
Veja o trailer: