Felipe Bragança assina o roteiro de grandes filmes nacionais como O Céu de Suely (2006), Praia do Futuro (2014) e Mormaço (2018). Desde 2009 atua também como diretor, escrevendo o roteiro dos próprios longas. Um Animal Amarelo é sua empreitada mais recente, exibido no Festival Internacional de Rotterdam e selecionado pelo Festival de Gramado na categoria de Melhor Longa Brasileiro em 2020.

O texto de Bragança possui um lirismo pungente e uma tendência ao realismo fantástico, características essas que alcançam a máxima potência em Um Animal Amarelo. O longa é focado em Fernando (Higor Campagnaro), um pretenso cineasta que busca fazer um filme sobre a história do seu avô, que acaba se confundindo com a própria história Brasil. Nesta fábula tropical, Fernando visita Moçambique e Portugal para completar a sua jornada.

Logo de início fica evidente que o longa funciona em uma realidade própria,  regido por uma lógica peculiar e um tanto hermética para o espectador. Os elementos fabulares aparecem sem o menor aviso na forma de um monstro peludo, pedras preciosas estomacais, banhos de leite e tantos outros componentes. Como resultado, temos um humor fora do óbvio, criado a partir dessas estranhezas.

Existe na produção um ar teatral que se manifesta na caracterização dos personagens, na maquiagem e no texto. O próprio Fernando parece um personagem saído dos palcos, sempre muito atormentado e, conforme descrito no filme, ridiculamente desajeitado. Tal atributo comunga perfeitamente com a excentricidade da trama. Já o uso da narração não casa tão bem. Ainda que o texto possua uma metalinguagem poética e autoconsciente, o recurso, usado à exaustão, torna-se cansativo e não deixa de se mostrar uma saída fácil para as eventuais dificuldades enfrentadas na escrita do roteiro.

Dividido em capítulos, Um Animal Amarelo é mais forte quando ambienta-se no Brasil. A mudança de cenário para Moçambique, ainda que apresente atores talentosíssimos, compromete o ritmo da história, que só recupera o espectador quando a narrativa chega a Portugal. Nessa longa viagem, Fernando, com ajuda da narradora, remonta a formação étnica e cultural do Brasil, exacerbando suas  problemáticas. Como plano de fundo, está o cenário político dos países por onde o protagonista passa, revelado em notícias de TV ou comentários dos outros personagens.

Esteticamente apurado, o filme entrega belas sequências onde o amarelo do título se destaca, seja em objetos, seja no figurino ou na fotografia. As cenas retratadas em animação são bem-vindas por reforçar o caráter lúdico da história e encher os olhos. Entretanto, não são o suficiente. Numa primeira visita, Um Animal Amarelo é um exercício de linguagem com belos momentos, mas um tanto cansativo. Uma segundo olhar talvez revele outros atrativos. Pelo histórico de Felipe Bragança, vale a tentativa.

*Esta crítica faz parte da cobertura Cinemascope do Festival de Gramado 2020

Um Animal Amarelo

 

Ano: 2020
Direção: Felipe Bragança
Roteiro: Felipe Bragança
Elenco principal: Higor Campagnaro, Isabél Zuaa, Catarina Wallenstein
Gênero: ​Drama
Nacionalidade: Brasil

Avaliação Geral: 2,5