Por Guilherme Franco
No interior da França de 1971, uma garota está se descobrindo e vivendo por entre grades invisíveis. Sua sexualidade é reprimida e escondida por estar envolta de conservadorismo e ignorância. Tudo muda quando Delphine (Izïa Higelin) se muda para Paris e conhece um grupo de feministas, e lá seu possível amor.
Um Belo Verão é mais uma obra que vem para transgredir e retratar o amor LGBTT no cinema, este ainda tão machista e tradicional. Mas além dessa pauta, o roteiro também insere questões como o feminismo, cultura do estupro, aborto e outros pontos que parecem ser tão atuais, mas que vem sendo questionados pelo público oprimido há décadas. “As agitadoras” (expressão dada ao grupo feminista da Universidade no filme) mostra como há o desencontro entre o ideal e objetivo de um (a) militante e a pessoa exterior ao movimento. A forma com que o público externo acha que é perda de tempo, que o mundo nunca vai mudar ou que são pecadores e pervertidos (as) quem contesta e desafia o status quo. Contanto, no fundo a maioria da militância abordada no longa é para a paz comum, mas o interessante é observar a forma suave e o ato de simplesmente “ignorar” que as mulheres adotavam ao invés de tentar dialogar sobre sua condição.
A fotografia do filme é escura em várias cenas, o diretor de fotografia assumiu a sombra nos rostos dos personagens e trouxe naturalidade à sequência. As cenas externas mostram bastante o verde do sertão interiorano francês com a maioria dos acontecimentos nessas locações em meio a sociedade de cabeça fechada do vilarejo de Delphine. A direção de arte e figurino trabalham o estilo dos anos 1970 de modo discreto, harmonizando o filme e personagens.
A atriz Izïa Higelin relembra algumas expressões como o sorriso e traços de Adele do Azul é a Cor mais Quente, mas diferente deste, Um Belo Verão traz um contexto histórico e de revolta aliado ao drama romântico. Muitas cenas de nudez são mostradas junto com sovacos peludos. Pela forma com que as aventureiras transgrediam o âmbito acadêmico da universidade e seu entorno é de se espantar como não terem sofrido uma repressão ainda maior, já que por conta de naquela época o preconceito e conservadorismo serem maiores. A grande questão da obra se trata daquela revolta que muitxs LGBTTs podem sentir, do amor vivido por eles ser considerado algo errado. A empatia mentirosa de pais que falsamente amam seus filhos. Enfim, de estar cercado por relações opressoras que valorizam casais por simplesmente conterem dois genitais diferentes juntos.
Um Belo Verão vem para resgatar que, mesmo numa sociedade que está supostamente “evoluindo”, ainda vemos os mesmos preconceitos vistos em 1971. O filme termina deixando apunhaladas trágicas no coração de quem carrega o fardo de ser sentimental e emotivo em uma sociedade doente. Cenas como a que um amigo do grupo de Delphine é internado por ser gay e submetido a cirurgias que, trazendo para a atualidade com a “cura gay”, ainda persistem. O longa termina deixando uma mensagem atemporal, de que a mudança pode ser feita, mas ainda não foi, que a opressão, a cultura do estupro, o machismo e homofobia são atos idiotas e irreais para quem é um ser vivo.
Um Belo Verão (La Belle Saison)
Ano: 2015
Direção: Catherini Corsini
Roteiro: Catherini Corsini, Laurette Polmanss
Elenco Principal: Cécile de France, Izïa Higelin, Noémie Lvovsky
Gênero: drama
Nacionalidade: França
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