Por Luciana Ramos

Uma Nova Chance para Amar realiza uma reflexão sobre a dor da perda, o sofrimento e o modo como a mente opera em tal situação. Tal diálogo se dá com  sutileza através do olhar de Annette Bening, a razão maior para assistir esse filme.

Nikki (Annette Bening) e Garret (Ed Harris) escolheram o México para comemorar trinta anos juntos.  Nitidamente felizes, jantam e dançam ao luar. Então, ele decide ir nadar no mar e acaba afogando-se.

Vemos então Nikki cinco anos depois, ainda morando na casa que foi projetada pelo seu falecido marido e dividindo o seu tempo entre o trabalho e jantares amigáveis com o vizinho, o também viúvo Roger (Robin Williams).

Ainda que esteja aparentemente recomposta, perdeu a alegria de viver, substituída por uma certa melancolia presente em tudo que diz. Ademais, vê o seu marido nas faces de diversos homens e, em seguida, relembra o ocorrido, dando fim a um momento breve de felicidade. Um dia, decide ir ao Lacma (Los Angeles County Museum of Art) e enxerga mais uma vez Garret passando ao seu lado. Só que agora ele parece real. De fato, é um homem idêntico ao seu falecido marido.

Nikki fica desnorteada e, por impulso, curiosidade e um certo desespero, segue-o. Descobre que seu nome é Tom Jones (também interpretado por Ed Harris), um professor de arte. Incapaz de lhe contar a verdade, aproxima-se por falsos interesses e, em pouco tempo, estão juntos.

Por mais que saiba que se trata de outra pessoa e goste da personalidade de Tom, Nikki só consegue enxergar aquele rosto, idêntico ao do seu marido de longa data. Tom percebe que há algo errado e a questiona com regularidade, mas está apaixonado pela primeira vez desde que sua esposa o deixou.

O conflito intensifica-se tanto internamente quanto externamente: a protagonista afasta todos que possam “reconhecê-lo” e, ao mesmo tempo, tem maior dificuldade em separar os dois homens de mesma face.

O longa, por mais “hitchcockniano” que possa parecer, diferencia-se pelo tom delicado com que é construído. De perfil intimista, aposta nas oscilações da protagonista, que ora se deixa encantar pela situação e em outras se mostra manipuladora. Ainda que tal escolha torne a trama extremamente cativante, revela-se problemática por apostar demais na segunda opção a partir da metade do filme, o que cria uma certa antipatia pela protagonista.

Ademais, os personagens coadjuvantes são pouco explorados e também auxiliam no enfraquecimento do roteiro. Nesse quesito encaixa-se tanto o papel de Jess Weixler quanto o de Robin Williams. A primeira, interpreta Summer, filha de Nikki e portanto a pessoa que pode pôr toda a fantasia da mãe em jogo. Já o segundo possui uma participação pequena, deixando a sensação de que ele tinha algo mais a oferecer como Roger, sentimento agravado dada a circunstância do seu falecimento. Cabe a nós espectadores e fãs esperarmos um pouco mais do seu talento nos cinco trabalhos ainda inéditos no Brasil.

Porém, todas estas falhas tornam-se pequenas diante do talento de Annette Bening, que consegue por meio da sua expressão facial tornar este um filme prazeroso de se ver. É impressionante a qualidade imprimida por ela à sua personagem, como consegue criar uma mulher que une melancolia, luto, ternura e vontade de voltar a ser feliz em poucos gestos.

Sem desmerecer o excelente trabalho de Ed Harris, que consegue diferenciar Garret e Tom e exprimir os seus questionamentos enquanto o último, o “sósia”, também pelo trabalho facial, Annette Bening é a razão principal para assistir Uma Nova Chance Para Amar. É o seu talento e não o roteiro em si que consegue prender a atenção e emocionar o espectador. Nada menos do que o esperado de uma grande atriz.

Cinemascope - Uma nova chance posterUma Nova Chance para Amar (The Face of Love)

Ano: 2013

Diretor: Arie Posin

Roteiro: Matthew McDuffie, Arie Posin.

Elenco Principal: Annette Bening, Ed Harris, Robin Williams.

Gênero: romance, drama.

Nacionalidade: EUA

 

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